Acipi: Um congresso fora da caixinha
Todos os ingressos esgotaram, não sobrando nem para remédio. Isso significa que mais de 600 participantes decidiram gastar um tempo para ouvir os palestrantes e trocar experiências
A 19ª edição do Congresso Empresarial da Acipi, realizada hoje (3), no Teatro Municipal Dr. Losso Netto, foi um evento “fora da caixinha”, como disse o presidente da entidade, Maurício Benato. “Nada de inteligência artificial e estratégias de mercado para aumentar fatura
mento. Nesta edição, nosso foco foi a formação humana, o equilíbrio emocional do empresário para que ele possa se fortalecer em sua missão empreendedora”.
Como o próprio tema do encontro afirma, foi um dia para se conversar sobre “Liderança que transforma”. Se o tema emplacou? Todos os ingressos esgotaram, não sobrando nem para remédio. Isso significa que mais de 600 participantes decidiram gastar um tempo para ouvir os palestrantes e trocar experiências. Eram eles: Murilo Gun, Tânia Mujica e Dado Schneider. Três pensadores fora da caixinha.
Quem é esse tal de Murilo Gun? É um cara do mundo virtual? Sim. É um cara do show business? Sim. É um livre-pensador? Sim. Então, é simples decifrá-lo. É um pioneiro da internet no Brasil, pioneiro da comédia stand-up e fundador da escola online de criatividade, com mais de 500 mil alunos. Óbvio.
O que ele tem a dizer, afinal, ao empreendedor? “Silêncio. Não deixe seu barulho interior atropelar suas decisões, porque elas podem ser influenciadas por confusões, mais do que por ideias fundamentadas que as sustentem”.
Ele parte da premissa de que o barulho é criado e o silêncio é o que é. “Tire todo o barulho e sobrará apenas o silêncio. É lá que você precisa chegar para se ouvir em sua plenitude, sem jogo de cena, e avançar, tomar suas decisões com base em um pensamento sem ruídos, sem interferências equivocadas”. A estratégia para ele é desacelerar até o ponto de equilíbrio, para voltar a acelerar com segurança. Gun é um zen empreendedor.
Estátua viva
Tânia é um mundo paralelo que interage com o mundo real e traz à tona um universo de segredos, que ela descobriu em sua trajetória de silêncio. Em poucas palavras, ela contou que seu entendimento do mundo exigiu virar uma chavinha secreta que trazia consigo e a fazia sofrer, mas que precisou de condições especiais para poder acessá-la.
Com a arte na alma, seu pai não queria nem saber de artista em casa. Como punição, ela era colocada no canto na sala de castigo. Em silêncio e pensando no que lhe acontecia, entendeu que seu pai, da forma mais desencontrada possível, estava sendo seu verdadeiro mestre, pois lhe ensinou a arte da estátua viva, performance que lhe tirou de vária situações difíceis quando deixou o Peru e escolheu morar no Brasil.
No exercício da vida dura, da auto-observação, nasceu a profissional requisitada, que hoje desenvolve projetos envolvendo o poder do silêncio e a facilitação do diálogo. Longe da palavra-fragmento, busca sentido no caos, dando forma a conteúdos que possam estar submersos no barulho. Da palavra que feria, desenvolveu projetos com palavras que recuperam vínculos, da comunicação sem medo, da superação de conflitos. Por isso tudo, tornou-se uma profissional requisitada por grandes empresas do Brasil e do mundo.
Gerações distantes
Dado Schneider pensa em gerações. Estudioso profundo em comportamento de jovens, vê diferenças fundamentais entre pessoas nascidas em circunstância diferentes, que precisam ser compreendidas para que haja avanços nas relações entre elas. A geração Z, segundo ele, não brincou na rua, é 100% tela, transita com desenvoltura no território da virtualidade. Bem diferente do que acontece com as gerações analógicas anteriores. As gerações posteriores são ainda mais impactadas pelas novas tecnologias, porque seus integrantes preferem o silencio de um quarto, com um celular na mão, do que a conversa com outras pessoas.
“Além disso, são gerações fortemente influenciadas pela pandemia de Covid-19, que tantas sequelas nos deixou e que ainda não as superamos completamente”. Ou seja, são três gerações que precisam ser mais bem compreendidas, especialmente pelos mais velhos. “Esse olhar para o mundo diferenciado resulta em forma diferente com que se relacionam no trabalho, com equipes, com hierarquia. Elas não olham o mundo de baixo para cima, como quem está submetido a uma ordem superior, a um chefe, seu olhar é horizontal”, observa.
Para Schneider, vivemos a adolescência do futuro, com problemas de relacionamentos que deveríamos ter enfrentado há 15 anos, mas que estamos nos dando conta deles somente agora. “Vamos ter que enfrentá-los, porque há muita coisa a ser mudada para que haja sintonia entre as gerações. Na escola, por exemplo, precisamos de outro tipo de sala de aula, outro tipo de lousa, outro tipo de professor, porque estamos mexendo com outro tipo de pessoa, de outra cepa. Se não dermos um passo nesse sentido, a situação tende a ficar ainda mais complicada no futuro”, sentencia.