Além de eu receber, ainda quer que eu trabalhe, chefe?
A IA aprende rápido a se adaptar em ambiente corporativo com alta produtividade, mas não em Piracicaba
DA SÉRIE RETROSPECTIVA 2024
Tudo bem que seja inteligência artificial (IA) trabalhando para o município (notícia divulgada em fevereiro de 2024). Não deve ser esta a questão. Por mais crítico que seja o observador sobre a aplicação das novas tecnologias na gestão pública, esta é uma tendência global que chega com uma função nobre, colaborativa, de fazer coisas de forma precisa, econômica e rápida.
O que não poderia ser – e é aí que está o busílis – uma IA com os piores vícios dos antigos servidores públicos, e de carne e osso, que fizeram a fama no imaginário popular. Daqueles que deixam o casaco na cadeira do escritório só para garantir sua parte em dinheiro no final do mês, mas, na prática, se eximir dos compromissos.
Luciano Almeida garantiu, quando contratou o serviço de câmaras com IA, que ele traria “agilidade à manutenção das ruas e avenidas de Piracicaba, contribuindo para o bem-estar da população.” O posto de trabalho da IA seria na Secretaria de Trânsito e Transportes.
Ela teria a simples missão de analisar todas as vias de trânsito em tempo real, a fim de identificar ocorrências que necessitam de intervenção. Faria o reconhecimento e mapeamento de calçadas irregulares, empoçamentos, iluminações apagadas, descartes irregulares de lixo, mato alto, pichação, sinalização inexistente, tampa de bueiro irregular, uma maravilha.
Só que ninguém viu até hoje as pegadas da servidora moderninha. Simplesmente porque ela não usa casaco e se disfarça de software. Mas seu contrato anual está demandando aos cofres públicos cerca de R$ 1,7 milhão, correspondente a R$ 141 mil por mês.
A danada não tem sequer a obrigação de correr praça diariamente. Para garantir a bufunfa é só sapear pela cidade no máximo duas vezes por mês. Capte a grandeza da nova funcionária segundo as palavras da titular da Semuttran:
“Essa ferramenta vem para contribuir para a gestão pública tomar decisões de forma proativa e com economia de recursos, já que podem ser direcionados de forma mais assertiva, porque teremos dados atualizados sobre as situações das vias da cidade e, assim, poderemos decidir quais ações devem ser feitas, colaborando para melhorar a qualidade de vida do cidadão.”
Para não falar mais maldade da ilustre desconhecida, quando se pega a lista de reclamações sobre os problemas urbanos da cidade que chegam na Câmara Municipal, por exemplo, a fonte ainda é o velho e bom 156. Ou seja, as pessoas comuns que ligam e reclamam. Não há nada de IA. De duas uma: Ou a IA não foi contratada e esqueceram de avisar a população sobre o alarme falso (mas a notícia oficial de que ela estava contratada foi divulgada no início de julho deste ano). Ou de fato a nova funcionária pública veio mesmo para manifestar o pior comportamento dos velhos servidores públicos: “Além de eu receber, ainda quer que eu trabalhe, chefe?” Com a palavra.... Ele já se foi.