Arte no Papel devolve obras restauradas e amplia acervo da Pinacoteca Miguel Dutra
Projeto em Piracicaba reúne restauro, acessibilidade e reflexão sobre preservação do patrimônio cultural
Produtora cultural Barbara Ivo e restauradora-conservadora Flávia Santos - créditos: Cláudia Melo
O projeto “Arte no Papel”, criado em 2024 pela conservadora-restauradora Flávia Santos, chega a uma etapa decisiva em outubro de 2025 com a devolução de 15 obras em suporte de papel devidamente restauradas ao acervo da Pinacoteca Municipal Miguel Dutra, em Piracicaba. A iniciativa, que conta com fomento do PROAC, se propõe não apenas a recuperar peças históricas, mas também a ampliar os horizontes de acesso e reflexão em torno da arte.
Entre as obras restauradas, estão criações de nomes como Benedito Calixto, com pintura em papel que exigiu o uso de equipamentos específicos devido à fragilidade do pigmento solúvel, e Geraldo Nogueira Filho, cuja obra apresentava um restauro antigo em que as partes fragmentadas estavam espaçadas, sendo recomposta após um minucioso trabalho técnico. A peça de Mira Schendell, considerada uma das mais complexas pela escassez de referências imagéticas e pela delicadeza do papel cartão acetinado, também foi recuperada. Já a obra de Hélio Siqueira, marcada por manchas de acidez e oxidação, retornou ao acervo com resultado acima das expectativas.
Restauro das obras com Flávia Santos - créditos: Cláudia Melo
Outro destaque é “Estúdio de Cores”, de Maria Bonomi, maior obra restaurada no projeto, com 190 x 300 cm. A gravura em papel japonês demandou a colaboração das restauradoras Priscila Alegre e Margot Crescenti, em um processo que reforçou a importância do trabalho coletivo e ciência interdisciplinar. Para o transporte e manuseio da peça, foi desenvolvido um plano estratégico detalhado em parceria com a Gala Art Installation, garantindo segurança e eficiência.
Restauro da obra “Estúdio das cores” - créditos: Cláudia Melo
O retorno das obras restauradas não representa apenas um ato simbólico de cuidado com a memória cultural, mas também uma ação concreta de preservação. Todas as peças serão acondicionadas em embalagens adequadas e armazenadas na reserva técnica inaugurada em 2024 na nova sede da Pinacoteca Miguel Dutra, garantindo maior proteção contra variações climáticas, umidade e agentes biológicos.
Além da restauração, o projeto doou à Pinacoteca sua primeira obra tátil, uma tradução sensorial de “Estúdio de Cores”, de Maria Bonomi, desenvolvida em parceria com a Bitu Arte e Educação. Criada a partir de estudo detalhado da gravura original e com materiais como MDF revestido em tecido e recortes texturizados que guiam o toque, a obra convida visitantes a explorar formas e texturas, ampliando o acesso para pessoas com deficiência visual e promovendo novas formas de vivência artística.
“Estúdio das cores” versão tátil - créditos: Cláudia Melo
O “Arte no Papel” também conquistou espaço de discussão nacional ao ser apresentado na Jornada da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) 2025, realizada em São Paulo. A produtora cultural Barbara Ivo representou a iniciativa em uma mesa de comunicação, destacando a importância do fomento público para a preservação do patrimônio e o compromisso do projeto com a transparência na aplicação dos recursos.
O projeto promoveu capacitações para profissionais do acervo e mostrou que preservar não é apenas prolongar a vida das obras, mas criar pontes para que elas dialoguem com o presente e com diferentes públicos. “De maneira geral, o projeto ultrapassou os objetivos previstos inicialmente, pois além de realizar o ponto principal em prolongar a existência de bens culturais públicos e artísticos, promoveu ainda parcerias profissionais e extroversão cultural e educacional para o público em geral”, afirma Flávia Santos.