Conflito de classes
Diferente do que eu captava de outros veículos de comunicação, minha impressão era de que a população do Rio de Janeiro havia aprovado a megaoperação
Hoje mesmo li uma matéria na revista Crusoe sobre a megaoperação Contenção, realizada na terça, 28, pelas polícias civil e militar do Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho (CV) nos complexos da Penha e Alemão, Zona Norte.
Diferente do que eu captava de outros veículos de comunicação, minha impressão era de que a população do Rio de Janeiro havia aprovado a megaoperação, como fiquei sabendo agora há pouco, após pesquisa da AtlasIntel divulgada nesta sexta-feira (31).
A pesquisa mostra que 62% dos moradores do Rio de Janeiro e 55% dos brasileiros aprovam a megaoperação Contenção. Mais óbvio: “Entre os moradores das comunidades cariocas, 87% aprovam a operação. Entre os habitantes de favelas do Brasil, o índice também é alto: 80%”, afirma a matéria, publicada pela mesma Crusoé.
Mas na matéria que analisa a ação propriamente dita, fiquei impressionado que a esquerda ainda interpreta a sociedade pela lente da ‘luta de classes’, o que estaria evidente na operação. Está assim no desenrolar do texto intitulado “Soberania Relativa”, muito bem escrito pelos jornalistas Alexandre Borges e João Pedro Farah”, quando eles tratam da repercussão da decisão do STF, que suspendeu em 2020 operações especiais em favelas:
“A decisão foi celebrada por entidades de esquerda e, por extensão, pela imprensa. Para os alegados especialistas, em geral sociólogos e ativistas com motivações ideológicas e aversão quase física à polícia, era o passe livre para manter o fetiche progressista do eterno discurso que vê tudo por uma lente abstrata e irreal de conflitos de classes”.
Para mim, conflito de classes de verdade observei na adolescência, quando estudei no Colégio Jaçanã Altair Pereira Guerrini, na Vila Independência. Dois rapazes se enfrentavam frequentemente à saída da aula, na rua Dr. Paulo Pinto, um quarteirão de distância do colégio. Era uma briga feia de ver. Eu mesmo observava de longe e logo fugia do local, com medo. Mas a briga atraía muitos estudantes, que formavam blocos de torcida de um e de outro. Um verdadeiro conflito de classes.
Com o tempo, fiquei sabendo que os dois brigões inveterados, que se odiavam, praticavam na verdade uma espécie de terapia para corrigir suas emoções destrambelhadas. Eram cismas bobas da fase da vida deles. Porque se tornaram homens responsáveis e trabalhadores.
Mas falar em luta de classes com o PT e sua franja é diferente. Desde os anos 80, década da fundação do partido, eu observava essa tendência esquisita de seus integrantes, de colocar tudo nas costas das diferenças sociais e do tal clichê: “conflito de classes”. Mas eu preferia pensar como Paulo Francis.
E o que dizia o colunista da Folha, até então? Que ser de esquerda até os 30 anos era uma coisa muito natural. Demonstrava sensibilidade e desejo de melhorar o mundo. No entanto, segundo ele, passada essa fase da vida, continuar sendo de esquerda era sinal de limitação mental, de oportunismo, de malandragem. O PT já tem 45 anos. Suas lideranças são muito ricas e estão em outro patamar social de quando começaram na militância. Falar bobagem deu muito dinheiro a eles. Mas continuam na “luta de classes” porque é um discurso fácil e mentiroso para engambelar seu eleitorado.
Porém, se seus integrantes continuam pensando que os problemas sociais do Brasil são decorrentes de conflitos de classe só podem ser por falta de avanço intelectual. Os maiores problemas são políticos e econômicos, sendo que o primeiro interfere de forma doentia no segundo (considere a corrupção, sim senhor, além da falta de Adam Smith na formação cultural) e toda a sociedade paga muito caro por isso.
Amigos me perguntam o motivo de eu ser tão avesso ao pensamento de esquerda. Porque esse pensamento me leva àquele ambiente de rua, em que os dois jovens se enfrentavam e eu fugia de perto, pensando que minha mãe pudesse me ver no meio daquela muvuca insana e triste, supondo que eu fosse daquele mundo, sem perspectiva do amanhã. Não era isso que ela me ensinava.




