Corre, Trump!
Realismo mágico puro. Longe de um Borges, estilista sem igual, o desejo de Eduardo é de uma idiotice sem igual.
Eduardo Bolsonaro adotou o realismo mágico em sua visão e jeito de fazer política, o que o coloca na categoria de doidinho da silva. Silva, por sinal, quer dizer floresta e ele falou que, se preciso for, para salvar seu pai da cadeia, colocará fogo na floresta inteira. O Brasil é sua floresta. Os brasileiros terão que se segurar firme durante sua ação, pois somente depois que a floresta queimar, estarão livres de toda a censura que acontece neste país. E os Bolsonaros poderão reinar em paz o país do faz de conta.
Realismo mágico puro. Longe de um Borges, estilista sem igual, o desejo de Eduardo é de uma idiotice sem igual. Ele integra o clã que fez bobagem sem tamanho ao longo das últimas décadas (sempre levando vantagens no jogo político e econômico, nem sempre de forma digna) e agora se coloca como vítima de uma realidade que seus integrantes ajudaram a construir. Eduardo posa de salvador da família Bolsonaro, enrolada até o último fio de cabelo com a Justiça brasileira. Está delirando, coitado. Ou não.
Ele me fez lembrar de uma história que aconteceu em minha adolescência (10-12, ou mais?). Éramos moleques sem eira nem beira, perdidos na Vila Independência, em busca de um caminho seguro para a vida adulta. Enquanto isso, brincávamos, mas já sabíamos de muitas malandragens.
Eu e mais quatro da turma (não vou citar os nomes porque eles não me deram permissão kkkk) jogávamos Banco Imobiliário e pensávamos uma forma de ganhar dinheiro, mas não tínhamos a criatividade doentia de Eduardo Bolsonaro. Éramos ingênuos mesmo e pensávamos em trabalho honesto. Mas o fato é que havia no grupo dois meninos mais novos que nós, em outro mundo de entendimento da realidade.
Não sei se foi o tédio ou o que mais e um dos marmanjos do grupo pegou um maço de dinheiro do banco imobiliário e deu para o mais novo: “Fulano, vá até ao posto de gasolina (loja de conveniência) e compre tudo isso em doce!”. O menino pegou todo o dinheiro de brincadeira e, com os olhos brilhando, saiu correndo, feliz. Foi cumprir a missão.
Rimos muito da situação antecipadamente, porque estávamos cientes de que a brincadeira ia ter um desfecho engraçado. Só que o moleque volto dando saltos e com um pacote de guloseimas na mão. “Vejam só o que eu consegui comprar”, gritava eufórico. Eram balas, chicletes e pirulitos, tudo em um saquinho. Meio sem entender nada, fizemos a festa.
Bem mais tarde tivemos a informação de que, no momento e que o menino chegou à venda, a filha da dona estava no caixa, vigiando para que sua mãe pudesse ir ao banheiro. As duas crianças se entenderam muito bem.
Porque esta história engraçada veio à minha cabeça justo agora em que Eduardo vai tacar fogo em tudo (o nosso Nero tropical)? Pensei nele como sendo o menino mais novo do meu grupo de adolescentes. Ele saiu correndo do Brasil para se infiltrar na Casa Branca e ajudar o governo americano na decisão de medidas contra o STF brasileiro, que deve julgar seu pai, Jair Bolsonaro.
Num primeiro momento, me parecia insano pensar que uma iniciativa dessa pudesse prosperar (não faria o menor sentido em um pais sério), especialmente em se tratando de Casa Branca, onde as regras para se ter acesso à sede do governo são rigorosas etc e tal. Mas não. De repente, temos a informação de que Eduardo faz parte de um grupo influente e capaz de decidir sobre as medidas políticas e econômicas contra o Brasil, visando a soltura do seu pai.
Na minha adolescência, ficamos sabendo mais tarde de que o menino, ao chegar à loja de conveniência, negociou com outra criança. Por isso eles se entenderam e os papeis do Banco Imobiliário ganharam valor real e viraram doces. Penso que a Casa Branca se tornou a terra do faz de conta e Eduardo Bolsonaro deve ter se encontrado com uma versão infantil de Trump enquanto ele ia ao banheiro. É difícil imaginar que de outra forma um aloprado e cabeção como Eduardo Bolsonaro conseguiria se juntar à equipe do governo mais poderoso da terra. Fico imaginando que Trump, o verdadeiro presidente dos EUA, deva estar voltando do banheiro. Corre Trump.