Datados do século 19, reservatórios do Semae são tombados como patrimônio do município
Espaços preservam a história e a evolução do saneamento; tombamento pelo Codepac protege o legado arquitetônico e cultural de Piracicaba
Reservatório Marechal recebeu visita de turistas em 2022 antes da realização de reformas estruturais
Os três primeiros reservatórios de água do Serviço Municipal de Água e Esgoto de Piracicaba (Semae), datados do século 19, agora são Patrimônio Histórico e Cultural da cidade. A definição foi publicada nesta segunda-feira (15), no Diário Oficial do Município (DOM), pelo Decreto n° 20.912/25, assinado pelo prefeito Helinho Zanatta.
De acordo com o Decreto, o Reservatório semienterrado do Semae, localizada na rua XV de Novembro, 2.200, e os dois reservatórios na rua Aquilino Pacheco, 326, (EEAT Marechal), no Bairro Alto, estão definitivamente tombados e não poderão ser alterados, demolidos, destruídos ou mutilados sem prévia autorização do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba (Codepac).
Conforme documento de tombamento do Codepac, os estudos para construção destes reservatórios começaram em dezembro de 1884 pela empresa Frick & CO – com nome popular à época de Empreza Hidráulica de Piracicaba – baseados nos projetos do italiano Serafino Corso. O início das obras deu-se em maio de 1886, sendo o primeiro reservatório inaugurado em 02/11/1886, pelo então imperador Dom Pedro II.
Os engenheiros responsáveis pela obra foram o português João Frick, o italiano Carlos Zanotta, e o brasileiro Ataliba Baptista de Oliveira Valle. Segundo levantamentos históricos, esses profissionais foram principais responsáveis por introduzir tecnologias avançadas para sistemas de água encanada, energia elétrica e de canalização de esgoto, tendo como apoio intelectual em suas ações nomes importantes para Piracicaba, como Luiz de Queiroz e Saturnino de Brito.
Álvaro Saviani, presidente do Codepac, enfatizou a importância da ação. “O tombamento dos três primeiros reservatórios de água do Semae representa um marco para a preservação da história e da identidade de Piracicaba, pois protege bens que simbolizam o avanço técnico, urbano e social do município desde o século XIX. Ao reconhecer esse patrimônio, reafirmamos o compromisso com a memória coletiva e com a valorização de estruturas que contribuíram decisivamente para o desenvolvimento da cidade, ao mesmo tempo em que destacamos o trabalho sério, técnico e responsável realizado pelo Codepac, cujo colegiado atuou de forma unânime, fundamentado em estudos históricos e legais, sempre pautado pelo interesse público, pelo diálogo institucional e pela convicção de que preservar o patrimônio cultural é garantir que o passado continue vivo, acessível e significativo para as atuais e futuras gerações”.
O presidente do Semae, Ronald Pereira, reforça que, além da proteção destes importantes patrimônios da autarquia, com o tombamento, é possível buscar recursos junto ao governo federal e estadual para manutenção destes espaços. “Com o tombamento vamos proteger o interesse coletivo e garantir a integridade desses imóveis para que, no futuro, os piracicabanos possam ver e entender a evolução e importância do saneamento para a população. Além disso, a partir de agora, podemos também buscar recursos para reforma e manutenção destes espaços junto a órgãos, como o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), e em programas como o PAC Cidades Históricas, por exemplo”, completou.
OS RESERVATÓRIOS – Localizados no cruzamento das ruas Marechal Deodoro com Aquilino Pacheco, os reservatórios nº 01 e nº 02 têm capacidade de armazenamento de 1.180 m³ (metros cúbicos) e 3.200 m³, respectivamente. Conforme levantamento histórico, originalmente, os espaços apresentavam fachada neoclássica, com modenatura (conjunto de molduras), óculos, entablamento, platibanda (faixa vertical que emoldura a parte superior de um edifício e que tem a função de esconder o telhado) e portas em arco abatido.
A fachada principal (reservatório 02) é simétrica e dividida em sete blocos, apresentando três portas e quatro óculos circulares. As demais fachadas (reservatório 01), num total de três, foram executadas com os mesmos elementos da fachada principal, e as envazaduras também eram óculos gradeados. No conjunto, havia um portão (desaparecido) executado pelo serralheiro pelotense João José de Abreu, datado de 1885.
Já o reservatório nº 3, localizado na rua XV de Novembro, 2.200, Bairro Alto, tem capacidade para cerca de 2.450 m³ de água onde, atualmente, encontra-se vazio em razão de problemas estruturais.
O espaço apresenta execução simplificada, com fachada tripartida, porta em arco abatido e fachadas laterais marcadas pela abertura de um arco pleno em primeiro plano, acompanhado de cinco óculos acima e outros dois abaixo. Toda a estrutura foi realizada em tijolos de alvenaria autoportante, com sistema estrutural abobadado – método construtivo baseado no uso de superfícies curvas (abóbadas) para cobrir espaços entre muros, pilares ou colunas.
PROCESSO – Segundo o Codepac, o início do processo aconteceu em fevereiro de 2023, após repercussão de grande interesse da população quando da abertura do reservatório EEAT Marechal para visitação em setembro de 2022 quando recebeu cerca de 21 mil turistas, assim, destacando potencial turístico, histórico e cultural para Piracicaba.
Em abril do mesmo ano, o Codepac deu início aos estudos necessários para o tombamento baseada na Lei Complementar nº 171, de 13 de abril de 2005, tendo aprovação unânime do Conselho para o tombamento dos reservatórios em outubro de 2024. A confirmação dos espaços como patrimônios públicos aconteceu por meio do decreto 20.912/25, de 10 de dezembro de 2025.






