Dengue: chegada do mosquito a novas regiões e circulação de sorotipos 3 e 4 mantêm alerta, informa Butantan
Mudanças climáticas e volta de sorotipos da doença que já não circulavam há anos no Brasil, como os 3 e 4, podem provocar novos picos de casos
A chegada do período de calor e chuvas em boa parte do Brasil acende o alerta para o início da temporada de arboviroses – doenças causadas por vírus que são transmitidas, principalmente, por mosquitos –, uma vez que a umidade combinada às altas temperaturas torna o ambiente mais propício à reprodução de insetos. Esse é o caso da dengue: transmitida pelo Aedes aegypti, a doença bateu recordes históricos no país em 2024. Até o fim do ano passado, foram mais de 6,5 milhões de casos prováveis e quase seis mil óbitos confirmados, segundo o Ministério da Saúde, e o prospecto para este ano de 2025 não deverá ser muito diferente.
“Os efeitos das mudanças climáticas ainda têm potencial para se acentuar, o que pode contribuir para que o mosquito se alastre para diferentes partes do território, como vimos acontecer na região Sul do país”, explica o gestor médico de Desenvolvimento Clínico do Butantan Eolo Morandi Junior. Outro fator é que a volta de sorotipos da doença que já não circulavam há anos no Brasil – como os 3 e 4, que não apareciam desde 2003 e 2013, respectivamente – pode se tornar um risco latente, com potencial para provocar novos picos de casos.
Avanço da dengue
Se até meados da década de 2010 os grandes surtos de dengue ficavam mais restritos às cidades e estados litorâneos, os dados de 2024 do Ministério da Saúde mostram uma alteração de padrão: Distrito Federal, Minas Gerais, Paraná, São Paulo, Santa Catarina e Goiás lideram o ranking de maior incidência de casos por 100 mil habitantes no ano, confirmando o espalhamento do vetor para locais onde antes a doença não era tão comum.
Um estudo do Observatório de Clima e Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), confirmou que a dengue vem se alastrando para o Sul e o Centro-Oeste do Brasil. Os dados apontam que os mapas de ondas de calor e de anomalias de temperatura coincidem com as áreas de maior incidência da enfermidade nas regiões nos dois últimos anos.
“Desde 2023, temos vivenciado ondas de calor mais frequentes e chuvas mais intensas, sendo boa parte delas influenciadas pela ação do El Niño. Diferentemente do que acontecia no passado, o fenômeno climático tem se tornado mais corriqueiro e duradouro, e a tendência é que esse padrão continue”, observa Eolo Morandi Junior. As temperaturas mais altas permitem que o mosquito se reproduza com rapidez, o que, consequentemente, aumenta sua população.
Um estudo recente publicado na revista PLOS Neglected e conduzido pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP) em parceria com outras instituições nacionais e internacionais detectou que a ocorrência do fenômeno El Niño – quando a temperatura supera os 23,3° C e o volume de chuvas excede os 153 milímetros – aumenta a infestação de mosquitos da dengue.
Temporais e enchentes, como os que assolaram a maioria dos municípios do Rio Grande do Sul nos meses de abril e maio de 2024, também contribuem para a formação de novos criadouros para o Aedes aegypti devido ao alto volume de água acumulada. Em relação ao ano de 2023, os números de casos prováveis de dengue no estado da região Sul saltaram de 38 mil para 205 mil, enquanto os de óbitos foram de 54 para 281.
Variedade de sorotipos