Em que tudo isso vai dar?
Pode se esperar algo de bom de um líder com concepção imperial do mundo?
Analistas internacionais apontam para um aspecto relevante da visão de Donald Trump sobre geopolítica. Para ele, o mundo é dividido em áreas de influência, sob o domínio dos países fortes. Ele estaria, com a política externa que tenta implantar neste segundo mandato, promovendo essa recomposição territorial, segundo a qual a Ásia ficaria sob o peso chinês; América, orbitando em torno dos EUA; Europa e Eurásia, ajoelhadas à Rússia, comandada por Putin. Willian Waak segue essa concepção na coluna de hoje ao Estadão.
Seria o retorno ao período imperial, sem os avanços da democracia e do livre mercado, que tanto contribuíram para o desenvolvimento do ocidente. Nesse contexto, os países menores não teriam lugar de fala, como diria um politicamente correto, e atuariam apenas como mercados consumidores de produtos da metrópole, que privilegiaria os serviçais da corte, e como fornecedores de matéria-prima. Assim, a relação de Trump com Putin e Xi Jinping estaria em um nível de frequência – de quem decide –, que as rádios vizinhas não captariam, porque estariam fora da cúpula.
Por isso que a Ucrânia não tem a menor importância para Trump, porque seria um país menor, que só tem direito de obedecer e não de falar, pois estaria na condição de quintal russo. A Europa, na totalidade, também se encaixaria no escopo de território submisso. Só falta agora combinar com os países que compõem a União Europeia.
Sem disputa por mercados, os impérios se resolveriam por si, extinguindo, como num passe de mágica, todos os conflitos entre eles. Seria a paz perpétua. Por serem os mais fortes, não teriam dificuldade para calar as controvérsias internas. Trump disse que, na política externa, as medidas duras que pretende tomar contra os insubordinados estão apenas começando. Vale destacar Canadá e México. O governo brasileiro também terá a sua vez, com taxas e taxas. “Primitivismo ao extremo”, afirma Waak. Para ele, Trump é primitivo ao extremo.
Outro aspecto observado por Waak é que o Brasil navega nesse mar em revolta sem uma bússola. A falta de estratégia do país para atuar no mercado global, segundo ele, coloca o Brasil sob o risco de ser atropelado pelos fatos, uma vez que pode ganhar mercado devido à briga entre EUA e China, mas perder também devido à briga entre China e EUA. Ou seja, se ganha aqui, perde ali, pelo mesmo motivo. Porque o Brasil estaria na área de influência Americana em um império comandado por Trump, e receberia punições em caso de comércio Brasil/China que prejudicasse os EUA.
Mas como não foi tudo devidamente combinado com seus adversários ideológicos, Trump corre o risco de apenas tumultuar as relações globais. Nem mesmo os americanos estão contentes com seus primeiros passos. As pesquisas internas nos EUA demonstram que sua popularidade está despencando, mesmo estando em início de governo. O fato doloroso é não ser possível saber ainda em que tudo isso vai dar.