Empem: uma mudança histórica
Com o leilão do prédio e sua venda, a escola passa a funcionar no Colégio Piracicabano, a partir de janeiro de 2026
É preciso ter conhecimento mais detalhado sobre a Escola de Música de Piracicaba Maestro Ernst Mahle (Empem) para entender o que está acontecendo com ela neste momento de transição histórica.
Como é sabido pelos interessados, a escola propriamente dita passa a funcionar no prédio do Colégio Piracicabano a partir de 2026. Inclusive porque ela se tornou um patrimônio imaterial de Piracicaba pelo Codepac e deve ser preservada.
O que sofrerá transformação é o prédio da rua Santa Cruz, inaugurado em 1965 (30 de outubro). Como pertencia ao Instituto Educacional Piracicabano (IEP) desde 1998, precisou ser vendido por determinação da Justiça no processo de Recuperação Judicial da Rede Metodista de Ensino.
Sendo assim, o prédio foi arrematado nesta semana por R$ 2.700.000,00, recurso que será usado para pagar dívida com impostos federais, conforme descrito no processo.
Um pouco de história
A Empem nasceu em 1953, quando funcionava na sede da Società Italiana de Mutuo Soccorso, com o nome de “Escola Livre de Música Pro Arte de Piracicaba”. Depois virou Escola Pro Arte. Até que, a partir de 1963, tornou-se “Escola de Música de Piracicaba”.
Isso tudo está no livro “Recordações (de 1936 a 2021 – Ambiente Musical da Cidade)”, complementado por “Escola de Música de Piracicaba (desde sua fundação)”. É um material bem bacana e revelador, escrito pela senhora Cidinha Mahle, esposa do maestro.
Ela conta também que, a partir de 1958, a escola passou a funcionar em um prédio na rua Otávio Teixeira Mendes, em frente ao local onde ainda está a escola, espaço construído para acomodar o projeto musical do casal Mahle.
Um detalhe, para construir a escola foi preciso derrubar um casarão histórico onde a Empem também funcionou por uns 10 anos, que antes pertencia ao Clube de Ciência do Sud Mennuccci. A alegação para a demolição foi simples: o imóvel estava com uma série de problemas, cuja manutenção tornava-se cada vez mais cara. E o casal decidiu pôr abaixo. Afinal, o prédio era deles, arrematado em leilão.
Coincidência ou não, o prédio atual da Empem também foi arrematado em leilão e pode ser que venha abaixo. A história se repete? Mas antes do drama do fim ou renovação do prédio atual, houve uma fase difícil para o casal Mahle, quando perceberam que não estava nada tranquilo administrar a escola, seja por questão de idade ou financeira. Isso por volta de 1998. Foi quando procuraram o reitor da Unimep Almir Maia para propor a venda da escola.
O reitor achou formidável e o prédio foi arrematado pelo IEP por mais de R$ 500.000,00. O casal, no entanto, continuou à frente da administração da escola por cerca de 20 anos, o que dava a impressão de que eles eram ainda os proprietários, mas não eram. A sala de concertos Dr. Mahle, também passou por uma sofisticada reforma nesse período para ter sua acústica melhorada, novas cadeiras estofada e ar condicionado. O IEP deve ter gasto um bom dinheiro com tudo isso.
Portanto, uma geração que estudou na Empem neste período (por sinal o nome do maestro entrou no nome da escola por sugestão de Almir Maia) pouco sabia que o escola não era mais do casal e por isso essa confusão supondo que houve doação do prédio para o IEP. A doação foi dos instrumentos e biblioteca, que serão preservados.
Com a morte de Almir Maia e a entrada de novos reitores na Unimep, a relação com o casal Mahle ficou bem perturbada por anos e anos, até que na última década essa relação se estabilizou, mas a realidade era bem outra. A escola estava com sérios problemas de caixa e precisava sobreviver apenas do mercado de aulas de música. No período áureo da escola, com dinheiro farto da Fundação Mahle e, posteriormente, da Unimep, tudo era mais fácil. As bolsas de estudos tornaram-se abundantes. Com o mecenato atuante, gerações e gerações de alunos se aproveitaram do benefício e da fama da escola pela qualidade pedagógica inegável.
Mas a própria Cidinha Mahle conta em seu livro que na década de 1990 a maior preocupação da Empem era financeira e ela mesma propôs que a escola fosse mudada para um prédio mais econômico, de manutenção mais simples, enfim.
A realidade falou mais alto e agora a escola terá obrigatoriamente que se mudar e vai para o prédio do Colégio Piracicabano, um prédio histórico de 140 anos de tradição. Este roteiro já foi desenhado outras vezes como se percebe, com outros adereços, mas semelhantes em sua essência. Para ter ainda mais detalhes sobre toda essa bela história, que não termina aqui, é só ler o livro da fundadora da escola. Está tudo lá.




