Entre o que se deseja e o possível
A negociação entre o governo e os servidores públicos municipais deve ser um exemplo de ganhos, sem extremismos
Faz parte do processo de negociação encontrar um ponto de convergência entre o aumento salarial que o funcionalismo de Piracicaba gostaria de alcançar e o que o governo tem condições de oferecer de fato.
É um processo natural também que a categoria peça um reajuste mais vantajoso, enquanto a prefeitura estará sempre tentando conter o ímpeto, oferecendo algo inferior ao desejado. O jogo é pesado para os dois lados.
Os argumentos em defesa de posições precisam também ser fortes. Se o governo oferece algo abaixo da inflação do período (3,64%), alegando falta de previsão orçamentária, provavelmente é porque viu no desejo do funcionalismo certo excesso (pedido de reposição inflacionária, mais ganho real de 5%).
Por outro lado, o funcionalismo já pediu algo vantajoso porque pretende pressionar o governo para que se atente à situação salarial da categoria, cujos holerites da maioria revelam uma realidade dura.
Se o governo oferece apenas R$ 270 de vale-alimentação, é porque sentiu o funcionalismo exacerbado ao ter como referência R$ 1 mil. A partir de agora vem o movimento de confluência para um ponto de equilíbrio e a conversa real entre as partes.
Evidente que equilíbrio não é o meio-termo, mas sim, a capacidade de argumentação e a sinceridade do prefeito com a categoria, bem como a pressão sensata do funcionalismo diante dos números apresentados pela administração.
O Sindicato dos Municipais tem experiência de sobra para conduzir o processo e sabe o momento de esticar a corda e o momento de conter os ânimos. Greve é sempre um exercício limite e prejudicial a todos, tanto devido à ilegalidade da paralisação quanto ao comprometimento dos serviços à comunidade.
Isso tudo não significa fazer o jogo do governo, mas sim apontar que o governo precisa ao menos se comprometer com um processo gradativo de recuperação do salário dos municipais ao longo dos seus quatro anos de gestão.
O fato de ser o primeiro ano de governo Helinho Zanatta (PSD) – esse também não é um argumento derrotista –, o aprendizado histórico indica que se estabeleça um pacto favorável entre a categoria e o chefe do executivo, sem colocar o governo contra a parede neste momento. O ganho será gradual e consistente. Ninguém ganha com estresse e radicalização. Ou melhor, todos perdem.
O próprio sindicato dá sinais de que seria um bom acordo obter ao menos a reposição inflacionária. Claro que os servidores chiam, porque acham pouco. A mesa de negociação é para isso: chegar ao possível. Se ela se chama mesa de negociação, não deve ser local para se colocar fogo.
Uma negociação salarial é antes de tudo uma negociação moral, de se estabelecer compromissos de médio prazo entre governo e servidores e de cumpri-los ao longo do mandato. Ambas as partes precisam estar com os pés no chão, sentindo até onde vai o desejo e até onde vai a realidade. A cidade só ganha com isso.