Falta de respeito com o leitor
Em jornalismo, é fundamental o bom senso, mesmo nos momentos em que o dinheiro fala mais alto
Esse negócio de direita e esquerda está chegando ao limite da estupidez. Hoje, a Tribuna, do senhor Evaldo Vicente, publicou uma foto do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) abraçando o ex-presidente Bolsonaro (PL), com os seguintes dizeres: “Toma aí seus 3 pedágios. Caipiras! Seus otários. A direita sempre ajudando o povo de Piracicaba.”
A referência sobre a concessão da rodovia Luiz de Queiroz se repetia ao lado, com uma matéria da deputada estadual Bebel (PT), afirmando que está na praça um abaixo-assinado lançado pelos ‘educadores’ contra os tais pedágios. Trata-se de um suposto movimento com título ousado “Educadores unidos pelo Brasil”.
O exercício de combate a Tarcísio de Freitas, que motiva a Tribuna e Bebel, tem um preço pago... pelo bom senso jornalístico. Em uma cidade que não é Bolsonarista. Em uma cidade conservadora. Em uma cidade em que Bebel não tem voto. O que levaria um editor respeitado a colocar na capa do seu jornal uma imagem tão agressiva e estúpida?
Afinal de contas, ser contra a concessão da rodovia Luiz de Queiroz é um equívoco em si. A qualidade das rodovias do estado está diretamente relacionada à sua privatização. Evidente que o ônus pode ser pesado demais para a população que usa diariamente o trecho da rodovia que liga Piracicaba a Americana. Mas com tanta tecnologia disponível, será que não haveria um aplicativo para controlar essa potencial disfunção?
Ser agressivo contra os pedágios, sem considerar o potencial da medida, é uma demonstração pura de jogo político. Aproveitar essa oportunidade para tentar ofuscar a imagem do governador está na pauta da oposição. Basta consultar as pesquisas e ver qual é o nome com maior desenvoltura para abater Lula em 2026 e se tem a resposta. Tarcísio de Freitas sabe, evidentemente, fazer política. E seria um erro tremendo dele perder o eleitorado bolsonarista. Mas sua postura como administrador vai além disso. Tanto é que sua aprovação no estado de São Paulo é alta.
É de se supor que seus assessores estejam debruçados em estudos para apresentar uma alternativa que resolva a questão dos pedágios para a população da região que utiliza diariamente a estrada. Há tempo para isso. Uma boa estratégia esvaziaria o discurso oposicionista, avesso à privatização, sempre. É claro também que seus críticos vão tentar tirar proveito caso haja alguma mudança estratégica do Estado, estilo: “Nossa campanha funcionou e o governador cedeu”.
Tudo muito previsível. O debate sobre a necessidade ou não dos pedágios é pertinente. Faz parte de uma sociedade democrática e a população tem que participar. O que perturba são os excessos, como a do senhor Evaldo, da Tribuna. Uma imagem daquela só faz sentido quando o próprio veículo perde o respeito por si próprio.