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Faltou diplomacia e sobram nervos

Mas novos passos estão sendo dados pelos EUA para corrigir a rota pouco diplomática

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mar 14, 2025
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Foto - Serviço de Emergência do Estado da região de Kharkiv

Se por um lado o líder ucraniano Volodymyr Zelenski pode ser criticado pelo seu estilo tempestuoso durante a fatídica reunião no salão oval da Casa Branca, quando do início do acordo de paz com a Rússia, mediado pelos EUA, ao fazer perguntas indigestas sobre a proposta colocada à mesa, dá para afirmar também que faltou diplomacia para o governo americano ao criar aquele cenário de saia justa.

Não houve qualquer preparativo para a cena, o que colocou o aflito Zelenski em desvantagem e ele precisava de explicações mais detalhadas sobre a proposta. Não seria ali o melhor lugar para obtê-las. Mas este preparativo diplomático não houve. Ele não deveria ter chegado no local sem ter antes uma conversa preliminar. O fato é que ele agiu bruscamente e recebeu de volta uma agressão verbal do pitbull do presidente americano, o vice JD Vance.

Este introito tem a ver com o artigo do jornalista Marc A Thuessen, do The Washington Post, publicado hoje pelo Estadão. Ele tenta mostrar o contrário do que vem sendo escrito na imprensa americana e europeia, de que Trump estaria se demonstrando mais para o lado de Putin do que de Zelenski. Segundo o colunista, Trump tem grande afinidade por Zelenski e pretende ajudar a Ucrânia a encerrar o conflito. Sua postura, no entanto, precisa ser de imparcialidade durante o diálogo, para poder compreender os dois lados.

O primeiro passo, portanto, no entender de Trump, segundo o colunista, seria o fim da morte de soldados e civis no conflito, russos ou ucranianos. “Sinto que tenho a obrigação de tentar fazer algo para parar as mortes”, teria dito Trump a Zelenski durante uma reunião com o líder ucraniano no dia 28 de fevereiro. “De ambos os lados, estamos perdendo muitos soldados. E queremos ver isso parar. E queremos ver o dinheiro ser destinado para diferentes tipos de uso, como a reconstrução.”

Ainda no entender de Marc, Zelenski, ao se comportar com certa agressividade diante das câmeras, teria rejeitado sumariamente um cessar-fogo imediato, porque disse que Putin já teria quebrado acordos anteriores da mesma natureza. O que é verdade. Zelenski estava apenas sendo sincero. Pode se dizer, diplomaticamente, que ali não era local para tamanha sinceridade. Mas não que, por isso, o líder ucraniano estaria na contramão de qualquer acordo que somente lhe beneficiaria.

JD Vance teria insinuado também que Zelenski nutria ódio contra Putin, o que inviabilizaria o diálogo. Certamente nutria e nutre ódio. Amor que não sente. Seria até cretinice afirmar que o líder ucraniano estava ali com a alma lavada e preparado para um diálogo tranquilo e calmo. Para isso, seria necessário um trabalho diplomático preliminar, como apontado acima. Mas Zelenski foi pego de surpresa.

O artigo de Marc já está um tanto quanto defasado, porque Trump e Zelenski já fizeram as pazes, até onde isso é possível. O que não dá para afirmar é que tenha desaparecido todo o receio do ar de ambos os lados. Sobre o acordo de subsolo, Marc diz que está sendo fundamental para a proximidade dos dois países, uma vez que pe o caminho para que os EUA estejam mais presentes na Ucrânia, o que é verdade também.

A celeuma se deu pela falta de preparativos e Trump deixou a entender que queria Zelenski aos seus pés. Não se faz isso com um líder em guerra com a segunda maior potência militar do mundo e resistindo bravamente à invasão ao seu país. Agora parece que as coisas estão entrando nos eixos e as percepções dos fatos podem ser mais favoráveis a Trump.

Faltou diplomática, não há dúvida. Mas a conversação está andando. Na Arábia Saudita, a segunda reunião entre representantes dos EUA e a Ucrânia revelou passos seguros em direção a uma parceria sólida entre os países democráticos. Mas há, sim, o inimigo no fronte, que não aceita um acordo que não o favoreça plenamente. Putin tem sangue nos olhos e dificilmente cederá em suas ambições. Vamos torcer para que a diplomacia americana seja mais eficiente em Moscou do que foi na Casa Branca e a paz prevaleça.

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