Faz de conta para Trump
Putin precisa ser aniquilado pela Ucrânia, com ajuda da União Europeia
Quem acompanha a dinâmica dos EUA nas negociações para tentar encerrar o conflito iniciado pela Rússia ao invadir o território ucraniano fica assustado com o nível melancólico dos diplomatas americanos escolhidos para a missão.
Partindo do princípio de que foi uma agressão unilateral, liderada pelo ditador russo, Vladimir Putin, que invadiu um país independente e democrático, o elementar seria impor a ele algum limite para inibir suas ações destruidoras e de alta letalidade.
No entanto, o lado moral da questão não tem espaço nas tentativas de acordo e as conversações se dão entre amigos do raio de influência do próprio Putin e de Donald Trump, avessos às regras internacionais e com interesses em comum na derrota ucraniana.
Isso mesmo. Esses homens da linha de frente, que poderiam chegar a algum termo civilizado para o conflito, são de fato homens de negócio com interesses no sucesso do ditador Putin. Pelo menos é isso o que se vê.
Estas observações valem tanto para Steve Witkoff como para Jared Kushner, que brincam de negociar com Kirill Dmitriev, pelo lado russo. Nenhum deles é diplomata de carreira e atuam como negociadores da iniciativa privada a fim de vender terrenos ucranianos para a Rússia. São compadres, como afirma Federico Fubini, editor do Corriere della Sera.
Na mesa de negociação em que se sentam cabe de tudo, menos o entendimento claro de que o que eles estão fazendo é apenas tramoia para tentar humilhar o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky a fim de que ele ceda aos interesses do grupo.
É uma cartada de mão única, besta, sem sentido e sem qualquer relação com o direito das nações, o bom-senso e a diplomacia internacional. Humilhante para eles.
No final, a situação está ficando tão aberrante e vergonhosa para Trump que tudo o que ele fala é ouvido sem ser escutado, tanto pela Ucrânia como pelos líderes da União Europeia.
O presidente americano, mais perdido do que nunca, pede eleições diretas para a Ucrânia, mas não diz um piu sobre como Trump foi eleito.
Inventa que Zelensky não tem o apoio do povo ucraniano, o que é mentira absurda. As informações chegam distorcidas a Trump porque são elaboradas pela equipe de propaganda russa.
Claro está que a Europa precisa tomar conta da questão e deixar os EUA de lado, como pede Trump. Mas esse não é o tipo de coisa que acontece do dia para a noite, vista a condução histórica da política de segurança europeia e a relação da Europa com os EUA.
Conforme a própria Ucrânia vai fortalecendo seu parque de produção de armamento bélico, conforme os países europeus vão ajustando suas decisões internas em direção ao enfrentamento de Putin, o cenário vai mudando.
Mas o tempo é curto. A máquina de destruição russo parece não ter limite. O endurecimento das conversações entre russo e europeus não pode tardar. Não se sabe exatamente em que termos isso se dará.
Putin precisa ser aniquilado pela Ucrânia, com a ajuda da União Europeia. Trump precisa ser deixado em seu sossego imperial fictício e idiota. A vida precisa seguir adiante para o ocidente e para o povo ucraniano. Será possível?




