Lula, em barco ou terra firme
Quando ele fala para o mundo aberto e livre, percebem-se ganhos evidentes
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Há movimentações distintas do eleitorado conforme se manifesta o presidente Lula sobre temas fortes e de importância nacional. Quando o jogo pende para o gueto, o balanço entre ganhos e perdas nas estatísticas eleitorais tende a mantê-lo em sua mínima do momento. Quando ele fala para o mundo aberto e livre, percebem-se ganhos evidentes.
A predisposição de Lula para falar com Trump sobre a química entre os dois foi inegavelmente sua melhor notícia dos últimos dias para o grande leitorado. Caso ele fracasse em sua tentativa de estabelecer um canal aberto entre o Brasil e os EUA, esses pontos angariados tendem a esmorecer com rapidez. Mas se houver avanços reais nas negociações bilaterais, tendem a vantajá-lo.
Com um pé em terra firme e outro em barco flutuante, o presidente brasileiro espera por uma surpresa favorável na reunião com Trump, agendada para a semana que vem, como foi o próprio convite do Republicano para conversar com ele. Mas a onda pode arrastar o barco de Lula para águas profundas e seus pés perderem a segurança da realidade objetiva. Aí o presidente do Brasil precisará novamente se reposicionar. Ou pula do barco e fica em terra firme, para falar com a maioria do povo brasileiro, ou faz do barco seu palanque. Aí vai falar apenas com seus peixinhos de estimação e os tubarões da sua longa jornada.
Se optar por terra firme, no mínimo já está preparando uma pasta com tudo o que pode negociar com o maior negocista da terra, o presidente dos EUA. Vai aí um bocado de diplomacia, porque nem tudo se entrega, mas este mesmo ‘nem tudo’ precisa ser devidamente exposto, com jeito, para não criar fraturas novas e desnecessárias.
Evidente que o sucesso no encontro lhe dará vantagem competitiva em 2026. E o insucesso lhe criará problemas. Vale lembrar que Tarcísio de Freitas já foi homologado pelos seus apoiadores e pelo ícone Bolsonaro. Por pior que seja a performance do principal adversário de Lula na corrida eleitoral do próximo ano, ele não virá para ficar mirando a realidade da praia. Afinal, o governador de São Paulo é um homem formatado a concreto e ferro.
Suponho que 2026 seja um ano distinto, com uma eleição presidencial mais pragmática que as anteriores, sem devaneios vulgares dentre ‘quem rouba a mesa de brasileiros’ e ‘defensores de ditaduras’. Mas sim entre currículos qualificados. Um de esquerda, com força em palanque e que talvez saiba ainda usar a roupa adequada para o figurino da hora, e se vender de democrata, como sempre, e outro conservador, que terá em seu discurso um certo retrocesso ideológico, por causa do eleitorado bolsonarista, mas terá como vantagem o trabalho duro para enfrentar problemas de um Brasil gestado nas últimas décadas a braços curtos e mãos corruptas. Vantagens e desvantagens que serão confrontadas.