Não dar dinheiro à Ucrânia é dar as costas ao mundo civilizado
Trump tem sim essa opção, de achar que a guerra na Ucrânia está perdida, mas aceitar isso como natural é uma postura a favor do invasor
O jornalista JR Guzzo escreveu neste sábado um artigo espantoso no Estadão. Ele, que sempre recebeu minha admiração, recebe hoje minha crítica. Isso não o desqualifica em nada. Que peso tem minha crítica a ele?
Apenas aponta que seu artigo parece inacabado. Está aberto demais para podermos tirar uma conclusão sobre a sua mensagem. Pelo que se deduz do que se lê, sua análise está equivocada.
O colunista abre atirando no que chama de classe civilizada, que, segundo ele, sofre excitação nervosa ao mencionar o nome do presidente dos EUA, a ponto de ter dificuldade de pensar com clareza o que está acontecendo naquele país sob a gestão Trump.
É o velho dogmatismo que cega para os fatos, entende-se de suas críticas a partir de palavras carregadas de simbologias. Certo.
Guzzo pergunta se nos EUA há mais ou menos democracia do que no Brasil de Alexandre de Moraes. Ele está corretíssimo novamente.
O Brasil, até em momentos como este, de ações estranhas do presidente americano, perde no quesito democracia, evidentemente. O nosso judiciário é uma aberração. Assim, questiona o colunista:
“O governo, a esquerda e nossas classes culturais se dizem apavoradas com Trump. Tudo bem, mas onde há mais democracia nesse preciso momento – nos Estados Unidos ou no Brasil?
O avanço lógico e coerente de Guzzo toca no fato de os EUA estarem cortando 20% dos seus gastos com a máquina pública, o que deveria ser um exemplo para o Brasil. Ponto para o colunista. Mas acho que ele erra feio quando observa a atitude de Trump em relação à Ucrânia.
“Na questão da Ucrânia, uma das que mais enfureceu os comunicadores do time civilizado até agora, formou-se uma sinuca de bico. O presidente da Ucrânia é descrito como um herói por defender os interesses da Ucrânia. Por que o presidente americano não pode defender os interesses americanos?”
E conclui assim: “Ele (Trump) acha que a população do seu país não vai ganhar nada se continuar jogando centenas de bilhões de dólares numa guerra que não pode ser vencida. O Brasil aceitaria isso? Não. Mas pensar, em relação a Trump, não é uma opção.”
E assim termina o artigo. Eu pergunto: Guzzo e Trump vêm Putin como um simples líder em uma guerra qualquer? Ou um ditador que invadiu a Ucrânia e demonstra ímpeto para amedrontar toda a Europa?
Sim, Guzzo, a Europa, não só a Ucrânia, corre perigo com os avanços do ditador Putin, e desencadeou um movimento de reestruturação de suas forças bélicas, depois que os EUA decidiram, preliminarmente, parar de financiar o lado ucraniano, que se defende das agressões de um inimigo do ocidente.
A indústria de armas vai se fortalecer. Tudo devido à postura de Trump, que pode, sim, dizer que não pretende mais investir em uma guerra na qual ele não acredita na vitória.
Mas fica evidente, com essa postura, que Trump vê Putin como um outro líder qualquer, com reles interesses de se apossar do país vizinho e colocar a Europa sob sua mira.
E se a Europa for fragilizada? O maior mercado americano vai para o buraco e o mundo civilizado, também corre o mesmo risco.
A postura de Trump, ao tratar de forma tão estranha e superficial a questão ucraniana e europeia, mostra seu desprezo à civilização e enfatiza sua visão imperial de mundo.
Portanto, não dar mais dinheiro para uma guerra que ele considera perdida é se aliar a Putin. Mais do que proteger seus patriotas, Trump dá as costas para o futuro da democracia no mundo civilizado.