O que acontece quando a esquerda é chamada de esquerda
O Viletim tem apontado esse movimento em defesa do Comcult como um jogo natural, mas que exige cuidados
Nunca vi a esquerda ficar tão impertinente por ser chamada de esquerda. É sinal dos tempos. Me refiro ao caso da proposta de eleição direta para o Conselho Municipal de Cultura (Comcult), cuja matéria foi divulgada ontem por este site. Pela foto, reproduzida novamente acima, quem conhece as figuras presentes não têm a menor dúvida de que a maioria representa o que há de esquerda militante em Piracicaba.
Eles foram ao gabinete do Secretário de Cultura, Carlos Beltrame, leram uma carta que orienta a conduta do grupo e fizeram... política. Tudo certo, tudo dentro das regras do jogo. O viletim.com.br, que não tem nada contra esse movimento, unicamente sabe distinguir o que significa um movimento de esquerda, recebeu uma leva de reclamações afirmando que a notícia era fake news.
Está certo que a esquerda só afirma que é fake news quando o assunto não lhe é favorável. Se for a favor, é verdade, mesmo que seja comprovadamente fake news. Mas ignorando esse fato, houve uma enxurrada de reclamações que chegou por diversos canais do site. Uma delas observou: “Se o movimento é de esquerda, o que há de errado nisso?” Reafirmo, não há nada de errado. O erro é um grupo tão unido de militantes de esquerda se chatear pelo fato de ter sido chamado de esquerda. Mas vamos lá.
O pano de fundo é que esse grupo de esquerda não suporta o tratamento diferenciado que o site dá ao que eles chamam de direita. Mas onde está a direita nessa história? O Viletim tem feito várias matérias criticando a falta de norte de vereadores de Piracicaba que se dizem de direita. Porque a direita não existe de fato enquanto um movimento social organizado, o que existe é uma gama diversificada de pensamentos considerados conservadores, que estão dispersos. Mas não há dúvidas de que o eleitorado atual de Piracicaba é predominantemente conservador. Sempre foi, suponho, mas não é dogmático, pois já elegeu José Machado, um ‘gentleman’, por sinal. Basta observar os resultados das urnas na última eleição e verá que a esquerda perdeu espaço no cenário local.
Então, Piracicaba é bolsonarista? Outra bobagem que a esquerda costuma afirmar, mas não faz o menor sentido. O bolsonarismo, propriamente dito, não cobre 25% do eleitorado e olha lá. Se houve convergência para o nome de Bolsonaro nas últimas eleições presidenciais é porque a cidade não gostava e não gosta nenhum pouco da ideia de ter Lula como presidente. Só isso. O problema, portanto, é que o Brasil carece de uma reforma política, para se tentar evitar que na Hora H haja somente dois candidatos extremistas na disputa e o eleitorado tenha que optar por um deles. Isso é doloroso para os conservadores, mas não para a esquerda.
É importante para a esquerda ter um inimigo à altura e unificado, que seja seu avesso. Isso é o bolsonarismo. Colocar todos os que não são de ‘direita’ em um mesmo saco é a busílis. Facilita a briga para a militância lulista, mas não corresponde à realidade. Isso demonstra que a esquerda está ficando mal de briga e não pode se dispersar, senão se perde. É sinal dos tempos. Estão perdendo a convicção? Não. Talvez precise se renovar ou se esconder, como tenta fazer criticando o Viletim apenas por observar que a esquerda estava unida em defesa da eleição direta para o Comcult.
Houve também uma galera, toda amiga, que observou que a direita não se une pela cultura como o faz a esquerda. Outro assunto para se tratar em um momento oportuno, porque o conceito de democracia de um conservador praticamente se encerra com a eleição do prefeito. Ela é representativa. O prefeito eleito tem a missão de levar a cabo seu plano de governo, que envolve a política cultural. Por outro lado, a esquerda tem esse lance de democracia direta e pretende implantar essa proposta de países autoritários no Comcult, o que foi prejudicado pelos excessos de Luciano Almeida (PP), que de fato engessou o órgão de representação, que a esquerda quer tomar de volta. No próximo artigo, detalharei o motivo da união da esquerda pelo Comcult.