Oficina Viagem Poética acontece nesta quinta-feira (7), na Biblioteca Municipal
Atividade será às 19h30, com o poeta Ésio Pezzato, e é aberta a todos os interessados em literatura
A Biblioteca Pública Municipal Ricardo Ferraz de Arruda Pinto recebe neta quinta-feira (7), às 19h30, a oficina literária Viagem Poética, conduzida pelo poeta Ésio Pezzato. A atividade é gratuita e aberta ao público, com foco em leitura, criação poética e troca de experiências entre participantes de diferentes gerações.
A proposta do encontro é lançar um olhar sensível para o papel da poesia na construção da memória e da sensibilidade. “A poesia é a alma da sensibilidade. Para mim, poesia é vida. E sem poesia, não há vida”, afirma Ésio Pezzato.
Durante a atividade, o público será convidado a refletir sobre a presença do passado no presente, por meio da voz e da trajetória de escritores que marcaram época e hoje permanecem quase esquecidos. A oficina propõe esse resgate afetivo e literário como estímulo à expressão pessoal e à valorização da palavra.
A atividade integra a programação mensal promovida pela Academia Piracicabana de Letras (APL), em parceria com o Centro Literário de Piracicaba (CLIP) e o Grupo Oficina Literária de Piracicaba (GOLP). Os encontros acontecem tradicionalmente na primeira quinta-feira de cada mês, sempre às 19h30, com temáticas variadas voltadas ao estímulo à leitura, à escrita criativa e à valorização da produção literária local.
SERVIÇO – Oficina literária Viagem Poética. Na Biblioteca Pública Municipal Ricardo Ferraz de Arruda Pinto (rua Saldanha Marinho, 333 – Centro, entrada pela rua Vergueiro). Quinta-feira, 07/08, às 19h30. Atividade gratuita, destinada a escritores, leitores e interessados em literatura. Informações pelo telefone (19) 3435-3674
Segue poema base para a Oficina Literária de Ésio Antonio Pezzato:
Se eu morresse amanhã, como Azevedo,
Talvez Varela me fizesse um cântico,
E Casimiro, com amor e medo,
Também dissesse que minh’alma é triste.
E se Tereza me dissesse adeus,
Castro Alves cantaria a minha dor,
E num poema de teor romântico,
Com mágoas cantaria o meu amor.
Com brancos sonhos alvos e diáfanos
Canto a simbologia em Cruz e Souza
E Alphonsus me oferece um Kyrie Eleinson
Enquanto faz Ismália enlouquecer.
Porém, Augusto, com seus versos íntimos,
Numa psicologia de vencido
Canta a tragicidade e canta o horror.
Tropeço numa pedra colocada
Propositadamente no meu verso,
Enquanto que Drummond, todo mineiro,
Com José dança valsas vienenses...
Bandeira – libertino e sempre tísico,
Para o esculápio fala – trinta e três!
E montado na estrela da manhã
Viaja para as praias de Pasárgada.
Além mar, nas pessoas de Pessoa,
Álvaro para mim guarda rebanhos,
E entre bairros modernos eu passeio
De braços dados com Cesário verde,
Com sentimentos de um ocidental.
Só, sempre só, lamento-me com Nobre,
Mas com Guerra Junqueiro caço melros
E à amada musa cedo um mês de férias.
Porém, com João de Deus canto o lirismo,
Andando no arredor de Nazaré.
Bilac ouve as estrelas lacteanas,
Raimundo sofre de algum mal secreto,
Vicente escandaloso canta o mar,
Alberto vinga-se batendo a porta,
E Menotti costura as suas máscaras
Na alegre arlequinada de Martins.
Numa tripa de terra jaz Neruda
Após cantar canções desesperadas;
Enquanto Thiago canta em seu escuro,
Guilherme olha o relógio e dança as horas.
Cervantes diz que sou um D. Quixote
E monto em meu cavalo Rocinante,
Com moinhos de vento me debato
Para ganhar o amor de Dulcinéia.
Debato-me na dúvida de séculos:
– Ser ou não ser! – porém, outra é a questão...
O meu reino darei por um cavalo!
E com William, nas ruas de Verona,
Serei Romeu em busca de Julieta.
Com Laurindo do tempo tomo conta
E junto a Jorge sigo pelas ruas
Para acender milhares de lampiões.
Porém, com João Cabral de Mello Neto,
Morro de morte e vida Severina.
Lorca me ensina uma canção sonâmbula,
E eu quero o verde que te quero verde;
E junto de Leoni em serenata,
Vibra o céu numa luz mediterrânea.
Machado canta em versos de falenas
E um círculo vicioso me oferece,
Ao qual procuro, sobretudo amar,
Para depois sofrer, amar, sofrer...
No alto mar absoluto de Cecília
Da inconfidência fico romanceiro.
Porém, numa canção trágica e triste,
Volto com minhas duas mãos quebradas!
Libidinoso, bêbado constante,
Poe triste canta corvos e a Lenora
Soluça negramente:– never more!
Milton no paraíso vai perdido
Enquanto Dante ri numa comédia.
Camões salva no mar um Livro a nado!
Bocage ri do mundo e ri de todos!
Hugo canta em baladas e romances
Os miseráveis sonhos da esperança!
Eu nos sertões de Euclides ardo e queimo,
Porém, pasto nos campos de Gonzaga.
Me sei Dirceu para beijar Marília,
Até cair no mar em Moçambique.
Com Gullar meu poema fica sujo,
Com Bomfim minha praia é de sonetos.
E até acredito que Vinícius vive
Numa imortalidade que perdura.
Vou caçar papagaios com Cassiano,
Com Andrade vou ser Macunaíma,
E no concreto puro destes Campos,
Sedimento de vez minha Poesia!
16.01.1995