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Os mortos

Com quem gostaria de ter tomado um café: João Chiarini e Zé Maria Ferreira

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Fábio San Juan
nov 02, 2024
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À esquerda, João Chiarini. À esquerda também, José Maria Ferreira.


Não é sobre o conto de James Joyce, este fica para outro dia.


Uma das minhas profissões ocupa-me dos mortos. O historiador convive diariamente com eles. De alguns, torna-se amigo, e um ou outro até se torna íntimo. Com outros, só lhes falamos por senso de dever, por necessidade.

Muitos deles me fascinam. Há duas pessoas, dentre todas, que gostaria de tê-las conhecido pessoalmente, e conversado pelo menos uma vez.

São duas figuras de Piracicaba, minha cidade, cuja história estudo, entre tapas e beijos, desde 1995. Sou o duvidoso especialista em um assunto restrito, pequeno e que pode se esgotar dali a pouquinho. Completando trinta anos nesta lida, ainda não dá sinais disso, graças a Deus, e vou seguindo.

Quanto mais leio os velhos jornais, revistas e documentos, quanto mais mergulho nesse passado que fica menos embaçado (nunca ofuscantemente claro, o passado sempre será um mistério), mais me dá vontade de tomar um café na Livraria Pilão, na década de 1970, e bater um papo sobre arte (piracicabana, óbvio), com o João Chiarini e o Zé Maria Ferreira.

Eu sei, vai rir quem os conheceu pessoalmente, principalmente de Chiarini. Chiarini era folclorista, advogado e autodenominado intelectual; com os que conversei, sobre ele, dizem que era grosseirão. Ele usava muito o termo “caipiracicabano”, criado por Tales Castanho de Andrade, mas ele mesmo teria sido um caipira no sentido mais pejorativo: provinciano, “dono da verdade”, arrogante, militante comunista fichado mas, incoerentemente, puxassaco e secretário por quase trinta anos de Mario Dedini, industrial e milionário, justamente o capitalista que deveria condenar.

Professor de escola pública e de tantas escolas particulares, “metido a intelectual”, mais metido do que intelectual, contava seu conhecimento pelo número de livros que tinha. Metido ou não, correspondia-se com grandes autores e intelectuais de verdade, como Jorge Amado e Mario de Andrade, e toda uma entourage, uma plêiade, uma caterva, de acadêmicos brasileiros e estrangeiros. Esses livros e cartas, além de uma vasta documentação sobre folclore e memória de Piracicaba, hoje estão no Centro Cultural Martha Watts e correm o risco de desaparecer, se der na telha da moribunda Unimep de jogar tudo numa caçamba de lixo ou tudo incinerar, para liberar espaço.

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