Pediatria da Santa Casa é pioneira no uso de IA aplicada à saúde materno-infantil
Pesquisa internacional liderada pelo chefe do departamento de pediatria da Santa Casa de Piracicaba, Marcelo Carvalho e Silva, foi publicada no International Journal of Medical Informatics (Elsevier)
Um estudo inédito realizado pelo pediatra Marcelo Carvalho e Silva (foto) em colaboração com o pediatra Artur Figueiredo Delgado, do Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, utilizou técnicas avançadas de aprendizado de máquina (inteligência artificial) para compreender melhor os fatores associados à manutenção do aleitamento materno exclusivo (AME) entre bebês brasileiros com menos de seis meses.
O trabalho analisou dados de 1.960 bebês do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI-2019), pesquisa que retrata as condições de nutrição e alimentação infantil em todo o país. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que todos os bebês recebam apenas leite materno até os seis meses de idade, sem qualquer outro alimento ou líquido. No entanto, as taxas de aleitamento materno exclusivo ainda estão abaixo do ideal e variam bastante entre as regiões do Brasil.
Para investigar o tema, os pesquisadores aplicaram nove modelos de aprendizado de máquina – Inteligência artificial, comparando o desempenho de cada um deles. O modelo mais eficaz — a Regressão Logística — alcançou uma taxa de acerto (AUC) de 86,5%, demonstrando alta precisão na identificação dos fatores associados à interrupção do aleitamento exclusivo.
Entre as 49 variáveis analisadas, a exposição prévia à mamadeira foi o fator mais fortemente associado à interrupção do aleitamento materno exclusivo. A idade do bebê e o uso de chupeta também apareceram como fatores de risco importantes. Por outro lado, atitudes como buscar informações sobre amamentação, doar leite materno e ter maior peso ao nascer mostraram-se fatores de proteção, aumentando as chances de manutenção do aleitamento exclusivo.
“O uso de inteligência artificial permitiu compreender, de forma mais precisa, quais fatores realmente impactam o aleitamento exclusivo no Brasil. Essas evidências podem ajudar profissionais de saúde e gestores públicos a desenvolverem intervenções mais eficazes”, destaca o pesquisador.
Ele reforça que os resultados oferecem subsídios valiosos para o aprimoramento de estratégias de apoio à amamentação, especialmente nas populações mais vulneráveis. “O estudo demonstra a importância de orientar famílias sobre os riscos da introdução precoce de bicos artificiais e de fortalecer redes de apoio e informação às mães durante os primeiros meses de vida da criança”, disse o pediatra.
Segundo ele, a publicação desta pesquisa em revista internacional de alto impacto científico representa um marco para a Santa Casa de Piracicaba e mostra que o departamento de pediatria do Hospital consolidou-se como um serviço capaz de aliar excelência assistencial à produção científica de reconhecimento internacional, desenvolvendo sistemas inovadores de inteligência artificial aplicados à prática clínica de forma a estabelecer parcerias estratégicas com centros de excelência como o HC-FMUSP. Este perfil diferenciado representa um ativo estratégico que fortalece a instituição e melhora a assistência à saúde infantil.



