Pesquisa analisa impacto dos pets no orçamento familiar e na economia brasileira
Estudo no Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) investigou como os animais de estimação influenciam o orçamento familiar
De autoria da economista Clécia Ivânia Rosa Satel, o estudo teve orientação do professor Rodolfo Hoffmann e apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). “Utilizamos dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), entre 2002 e 2018, e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), de 2002 a 2024, para mapear tanto o consumo doméstico quanto as relações comerciais ligadas ao mercado de rações e produtos para pets”, conta a pesquisadora.
Segundo Clécia Satel, foram aplicadas análises descritivas, cálculos de elasticidade-renda, estimativas de concentração de gastos e o modelo Tobit, ferramenta que permite maior precisão em casos em que grande parte da amostra não apresenta despesas registradas. ”Os resultados apontam um fenômeno social e econômico marcante: enquanto o número de filhos por família vem caindo nas últimas décadas, o número de animais de estimação cresce”.
De acordo com a Quaest e o Instituto Pet Brasil (2024), o Brasil já ocupa a terceira posição mundial em população pet, com cerca de 150 a 160 milhões de animais, segundo estimativas de 2024. O Censo Demográfico de 2022 indica que os domicílios brasileiros têm, em média, 2,2 pets, número próximo à média de pessoas por residência (2,8).
Um dos resultados do estudo mostra ainda que o perfil dos gastos também mudou. No início dos anos 2000, quase todo o orçamento destinado aos animais era gasto em ração (71,7%) e saúde (24,5%). Já em 2017-2018, esses dois itens representavam 70,5% do total, enquanto despesas com higiene, hospedagem, certificação de raças e planos de saúde ganharam espaço. “O valor médio mensal por domicílio passou de R$ 8,31 em 2002-2003 para R$ 20,42 em 2017-2018”, pontua Clécia.
As análises mostram ainda que famílias de maior renda tendem a gastar mais em serviços sofisticados, como hospedagem, adestramento e planos de saúde para pets, enquanto despesas básicas, como ração para aves, concentram-se em famílias de menor renda. “O Distrito Federal, São Paulo e Santa Catarina lideram os gastos médios per capita com animais”, complementa a autora da pesquisa.
Exportações – Além do consumo interno, o setor também se destaca no comércio exterior. As exportações de produtos e rações para pets saltaram de US$ 320,5 milhões em 2020 para US$ 502,7 milhões em 2024, acompanhando o crescimento expressivo do faturamento nacional, que chegou a R$ 74,4 bilhões em 2024. “A projeção para 2025 é de alta moderada, com expectativa de R$ 77,9 bilhões. Ainda assim, trata-se de um valor expressivo, que continua impactando positivamente a economia brasileira”.
Segundo Clécia Satel, a pesquisa oferece insumos estratégicos para empresas, formuladores de políticas públicas e investidores do setor “Os animais de estimação deixaram de ser vistos apenas como companhia e passaram a ocupar o lugar de verdadeiros membros da família. Isso se reflete diretamente nos padrões de consumo, na criação de novos serviços e no fortalecimento da cadeia econômica que envolve o segmento pet. A expectativa é que, nas próximas edições da POF, novas despesas — como creche, passeios e atividades recreativas para pets — passem a ser registradas, ampliando a compreensão desse fenômeno que conecta mudanças sociais, vínculos afetivos e impactos econômicos de grande escala”, finaliza.