Pesquisadores apresentam na Câmara de Piracicaba estudos para doação de órgãos de animais a humanos
Projeto desenvolvido em Piracicaba sobre xenotransplante visa criar suínos geneticamente modificados
Dra. Thamires Santos da Silva, da XenoBrasil
Pesquisadores do Instituto de Zootecnia (IZ-Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, e da startup XenoBrasil apresentaram, na noite da última quinta-feira (29), no plenário da Câmara Municipal de Piracicaba durante suspensão do expediente da 30ª Reunião Ordinária, pesquisa voltada à produção de suínos geneticamente modificados para serem doadores de órgãos para humanos, o chamado xenotransplante.
A suspensão do expediente foi solicitada pela vereadora Silvia Morales (PV), do mandato coletivo A Cidade é Sua, por meio de requerimento aprovado pelo plenário da Casa.
Além do IZ e da XenoBrasil, a pesquisa conta com a participação de outras insituições e pesquisadores parceiros.
“Essa tecnologia já está sendo estudada no mundo inteiro como uma forma de mitigar essa escassez de tecidos e órgãos para transplante. Ficamos muito felizes que Piracicaba está sendo o polo para desenvolver essa pesquisa, que é um trabalho sério, um trabalho inovador e que vai levar a cidade e mostrar a cidade como uma referência mundial nessa área”, falou a Dra. Thamires Santos da Silva, da XenoBrasil.
Dra. Simone Raymundo de Oliveira, do Instituto de Zootecnia
“Por que suíno? O suíno é o animal que mais se parece com o ser humano, tanto em termos fisiológicos, anatômicos quanto comportamentais. Esses animais, para realizar esse transplante direto, é removido um açúcar que recobre os órgãos. Atualmente o suíno já doa válvulas cardíacas e pele, e a insulina inicialmente também foi extraída do pâncreas do suíno. Esse açúcar foi removido geneticamente, por isso falamos que são animais geneticamente modificados, o que possibilita uma doação direta”, explicou a Dra. Simone Raymundo de Oliveira, do Instituto de Zootecnia.
Durante sua exposição, a pesquisadora Simone Raymundo de Oliveira ressaltou a importância da pesquisa e das doações de órgãos para pacientes que, muitas vezes, aguardam por anos nas filas de transplante. Ela também pediu para que as pessoas que eventualmente critiquem o uso de animais “baixem a guarda”.
“Esses animais salvarão vidas. Eles serão produzidos dentro de um sistema de bem-estar e sanidade extremos. O objetivo é ter à disposição órgãos para pessoas antes do organismo sofrer o que a gente chama das consequências secundárias, que é, por exemplo, quando um problema no rim sobrecarrega o coração e o resto corpo. A pessoa fica por anos na hemodiálise e a família sofre. Por que falo de a gente baixar um pouco as barreiras ideológicas? Porque a gente às vezes olha e fala assim, ‘Ah, mas vai sacrificar o animal?’ O animal não será sacrificado, ele vai continuar vivo na pessoa. O objetivo da pesquisa é disponibilizar órgãos, tecidos, córneas, para que as pessoas não sofram tanto. E quem tiver, por exemplo, para iniciar o processo de hemodiálise, tenha o rim à disposição e possa escolher”, explicou a pesquisadora.
Ela ainda enfatizou que o eventual uso de órgãos suínos não será obrigatório, “mas a ciência vai possibilitar isso”.
Simone também fez um breve panorama do xenotransplante em nível mundial: “O primeiro transplante renal de suíno foi realizado por um brasileiro, um paulista, médico veterinário, e transplantado por um médico brasileiro nos Estados Unidos. No último dia 25 de maio, a China realizou o primeiro transplante de fígado. Então, embora a pesquisa exista há um tempo, os resultados são recentes”.
A pesquisadora também apontou que, atualmente, um dos maiores desafios enfrentados pela pesquisa é a produção de um animal totalmente livre de patógenos e compatível com os eventuais receptores, de forma que a rejeição ao órgão seja mínima.