Política feita de cacos
A tendência é um cenário acéfalo, com a intenção apenas de se manter no poder
Depois de uma semana nervosa, que culminou na votação do PL 136/25, nesta segunda-feira (30), o ambiente político da Câmara Municipal de Piracicaba deu uma acalmada aparente. Mas quem é do ramo sabe que a temperatura tende a variar conforme o cenário de problemas, sem perder os motivos centrais que aquecem os ânimos nos debates.
Só para recordar, o PL 136/25 permitiu ao governo municipal remanejar recursos do orçamento para pagamento da folha dos municipais. Os vereadores de oposição fecharam questão no esforço de tentar colar em Helinho Zanatta a figurar de gestor irresponsável, que retirava recursos da Saúde e da Educação, duas pastas sensíveis à população. Mas a tese não colou, porque era equivocada.
A base do executivo, por sua vez, demorou para perceber que estava diante de um jogo político e precisava agir com mais critério, para não dar força aos seus adversários, caindo em novas armadilhas. Porque caiu na primeira armadilha, por falta de experiência, ao aceitar a proposta de Cássio Luiz (PL), que, na sessão anterior, pediu o adiamento da votação do tema e convenceu. Com isso, quase que não deu tempo de votar o remanejamento no prazo necessário para o pagamento do funcionalismo, conforme o Executivo planejava. Nada que uma sessão extra não resolvesse.
Mesmo com a representação do aparente problema pelo ex-vereador Paulo Campos ao Ministério Público – que se posicionou favorável ao pagamento dos municipais em dia, independente da votação –, no final das contas, tudo terminou relativamente bem. Mas poderia ter sido pior. Bem como poderia ter sido melhor para o governo, se as informações internas da prefeitura não fossem tão engessadas.
Quem está de fora viu a falta de articulação interna e de diálogo do governo com a base, para dimensionar potenciais riscos e manobras da oposição, subsidiar os vereadores com informações de fundo, enfim. A oposição jogou com astúcia, mas sem obter o êxito pretendido, que era dar um xeque-mate em Zanatta, porque lhe faltou o argumento central: provar que o governo estava fazendo algo de errado.
E lhe faltou eixo para definir o que pretendia. Isso não ficou claro. Mas o jogo poderia ter sido muito mais fácil para o governo, se as informações gerais sobre o PL 136 fossem melhor compartilhadas. O jogo, como um todo, poderia ter sido melhor, mas faltou consistência geral. Alerta!
A questão não é esta, ou melhor, este é outro artigo
Como a vereadora Rai (PT) cantava, “quem tem medo de formiga não remexe formigueiro” – ou algo assim –, o formigueiro político está remexido e complicado de se entender. Vou levantar um ponto aqui para reflexão.
Os partidos políticos na cidade estão perdendo identidade própria e se tornando apenas ferramentas nas mãos dos caciques nacionais. Por enquanto prevalece o cada um para si. Isso vem se intensificando há tempo. O que abre espaço ao caos. Caos de argumentos, caos de falta de profundidade nos debates, como temos visto. A tendência dos partidários é um cenário acéfalo, com a intenção apenas de se manter no poder.
A própria Câmara já tem vereadores eleitos de forma não-convencionais, vindos de fora, sem vivência social alguma na cidade. Nem o ex-prefeito Barjas Negri pode mais manter sua identidade psdbista, uma vez que levaram dele a legenda. Teve que migrar para o PSD, onde vai disputar território com o próprio prefeito Helinho Zanattta, para quem ele perdeu a última eleição municipal.
Com isso, os vereadores do PSDB não sabem exatamente o melhor caminho a seguir. Pedro Kawai, por exemplo, vota com o governo. André Bandeira se mantém na oposição. O líder do governo, Relinho, é do PSDB, Bicheiro é novato no ramo. Como manter uma posição política mais sólida se o cenário está em movimento e parte da oposição é situação e ninguém sabe quem será o adversário de amanhã?
Há vereadores solo, como Laércio Trevisan (PL), que segue seu próprio mandamento, distante da liderança do partido, que, em tese, seria da base do governo. Cássio Fala Pira segue o mesmo caminho de Trevisan. A tendência é desaparecerem os últimos resquícios do que definia um candidato (em termos ideológicos, digamos assim) e só sobrar o nome de cada um. É o fim da noção de partido.
Partidos políticos hoje são siglas que movimentam os fundos eleitorais e estão nas mãos de lideranças externas, que preferem um cenário sem cor e sob controle, para que possa ser feito o que lhes interessar. Ou seja, as alianças mais doidas possíveis para garantir o poder.
O PT inclusive está aflito com a possibilidade de Lula estar em seu último mandato e perder assim a referência de liderança. É o formigueiro da Rai, com muitos nomes batendo a cabeça, sem direção, sem comando. O que virá disso? A Câmara local já tem dado sinais dessa falta de norte e os vereadores tentam imprimir uma identidade própria, esperando que o eleitor perceba e a estratégia vingue.
Mas o que se projeta é um quebra-cabeça indefinido, por enquanto, porque o partido é quem decide o que fazer e como se posicionar, e o partido agora está distante, é algo abstrato, quase virtual. Uma distopia aquece o clima e gera um sentimento de vazio. Vazio controlado pelo Centrão, um conglomerado de legendas, que tem a chave do cofre que faz a engrenagem política girar.
O Centrão é tudo e não é nada. É situação e é oposição. É uma força suprapartidária que faz a gestão de uma infinidade de siglas e faz delas o que lhe convém. Não ter teses definidas é a melhor saída para os novos políticos. Porque não se vive com ideias em um ambiente assim. A falta de ideias está presente no legislativo local.