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Porque não gosto da obra de Romero Britto

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E não estou sozinho.

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Fábio San Juan
abr 08, 2025
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Porque não gosto da obra de Romero Britto
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Recebi consulta da diretora de uma escola particular, que me perguntou o que eu achava da obra de Romero Britto.

O texto abaixo é uma visão “vitaminada” da resposta que lhe escrevi - à diretora, não ao Romero Britto.

Você pode até não saber quem é Romero Britto, mas com 100% de certeza já viu uma, ou muitas, imagens produzidas por ele.

As suas obras aparecem, copiadas ou reinterpretadas, em muitas peças de artesanato, como panos de prato. É um dos artistas mais copiados ou plagiados do país. Artesãos reproduzem suas imagens, pintando-as ou imprimindo-as em telas, para venda em feiras de artesanato, como a da praça da República, em São Paulo.

Romero Britto vem ao Brasil inaugurar uma de suas maiores exibições de  esculturas de arte no Beto Carrero World. - Destino Beto Carrero World

Em qualquer lugar do Brasil onde haja artesanato, há cópias, reproduções ou plágios de obras de Romero Britto. E também em supermercados: ocasionalmente, o artista licencia ou produz imagens para embalagens de panetone, vinhos e outros produtos.

Infelizmente, nossas professoras e professores de Educação Infantil, e os de Arte no Fundamental I e II, utilizam as imagens de Romero Britto para xerocar suas versões em preto e branco, e as entregam para os alunos pintarem. Isso passa como “educação artística”. Na verdade, é só para os alunos preencherem o tempo, com os lápis de cor entregues de graça pelo governo, ou comprados pelos pais, nas escolas particulares.


Por que Romero Britto não é considerado um grande artista, ou ao menos um bom artista, que mereça alguma atenção dos especialistas, se o povo ama suas imagens?

As cores primárias que utiliza, de forma “chapada”, lisa, preenchendo espaços entre linhas grossas de contorno em preto, lembrando um vitral, é um recurso que já foi utilizado por grandes artistas como Piet Mondrian, Joan Miró e é claro, os vitralistas da Idade Média e posteriores.

Novo Poster Romero britto - Blue Cat

“Blue Cat”, obra de Romero Britto.

Não é por utilizar esses recursos que quer dizer que Britto seja um grande artista. Pelo contrário.

Ele também utiliza as formas, vamos dizer, o “estilo”, do artista gráfico Ziraldo. Em grande parte de sua produção, essa “influência” é indisfarçável.

Também não é por isso que sua obra seja ruim. Influências entre artistas existem, são comuns. E também é comum ser medíocre: ser a soma de várias influências para… nada, a não ser vender de maneira fácil. Vender não é o problema, e sim, o que a obra de arte deve trazer para a cultura, para o espectador, de forma mais profunda e proveitosa. E não ser só um fast food da Arte - com sabor que agrada, porque segue uma fórmula de produção em série, e nenhum nutriente.

A maneira como Britto utiliza os recursos da influência de outros artistas, como as formas de Ziraldo, as cores primárias e contornos grossos em preto, é superficial, não oferece nada além da satisfação imediata e muito rápida dos sentidos – e não oferece nenhuma leitura que leve além, que nos leve a outro lugar. Não favorece nenhuma leitura metafísica – que toda obra de arte com qualidade, mesmo pouca, deve ter.

Suas imagens são de fácil digestão, e por isso são populares. São simples demais, não exigem quase nenhuma leitura visual ou interpretação - pois são feitas para agradar um público de pouca ou nenhuma cultura visual. O tema está aparente, não precisa ser “mastigado” de forma alguma, ele se entrega muito facilmente. Um gato é sempre um gato, uma baiana é uma baiana, o retrato da Dilma representa a Dilma – e pronto. São coloridos, alegres, divertidos – como os sanduíches de fast food.

O problema não é ser alegre nem divertido. Imagens artísticas que nos levam além do que vemos podem ter o ponto de partida na alegria. Levar-nos a pensar, refletir, emocionar-nos, ou tudo isso junto - se a obra for realmente boa - com o sentimento maravilhoso da alegria.

Colors of Brazil" #Brasil #cores #carnaval

Mas a alegria de Britto é fútil, extemporânea. Não nos leva a lugar algum, a não ser reafirmar os clichês, as ideias já prontas, de brasilidade, de alegria tropical, de colorido dos países subdesenvolvidos. “Brasileiro é alegre e colorido”, é o máximo onde ele nos leva.

E é uma alegria boba, que passa a ideia que o brasileiro é um tonto, que se alegra por se alegrar. Não há uma mínima mostra de que Britto coloque em suas imagens um pingo da experiência, pessoal ou coletiva, de como o brasileiro se comporta diante da vida - com toda a complexidade que essa visão exige. O máximo que o artista faz, e de forma leviana, é mostrar como o brasileiro se vê - uma visão rasteira - e como ele faz para fugir dos problemas através do carnaval, o samba, e toda a alegria forçada presente nesses eventos.

Ou seja, Romero Britto, em sua arte, nos proporciona uma fuga da realidade, e não uma leitura que a encara a vida de frente - mesmo que fosse para chegar à conclusão que o brasileiro, apesar das dificuldades, continua alegre. O que ele faz mesmo é usar clichês surrados, batidos, para vender quadros para novos ricos, latas de panetone e servir de referência para cópias em panos de prato.

Britto Bauducco Panettone Tin: Gift - Artreco

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