Projeto de preservação de nascentes é finalista no 9º Prêmio Ação pela Água
Iniciativa incentiva produtores rurais de Piracicaba a adotar práticas sustentáveis e abrange mais de 1.000 hectares de áreas estratégicas
O produtor rural Klever José Coral é responsável por uma das áreas recuperadas por meio do PSA, na Bacia dos Marins
Quatro microbacias e uma ideia: proteger as nascentes que garantem o futuro da água em Piracicaba. Assim nasceu o Preservando o Futuro – PSA Piracicaba (Pagamento por Serviços Ambientais), programa que incentiva produtores rurais a adotarem práticas de conservação ambiental em áreas estratégicas para o abastecimento do município.
Finalista da 9ª edição do Prêmio Ação pela Água, promovido pelo Consórcio PCJ, o projeto é coordenado pela Secretaria Municipal de Agricultura, Abastecimento e Meio Ambiente e se consolidou como referência em gestão sustentável de recursos hídricos.
O programa, que em 2025 chega à sua 8ª edição, nasceu a partir do trabalho conjunto de uma equipe multidisciplinar de diversas secretarias municipais, a partir dos estudos realizados na elaboração do Plano Municipal de Gestão de Recursos Hídricos, coordenado pelo Semae.
“O PSA tem como principal objetivo contribuir com a preservação e proteção das microbacias potencialmente produtoras de água bruta, consideradas estratégicas para o abastecimento municipal”, explica a engenheira agrônoma Evelise Moncaio Moda.
A iniciativa surgiu em resposta à crise hídrica de 2014/2015 e, desde então, tem se consolidado como um dos principais instrumentos municipais de conservação de recursos naturais.
O PSA Piracicaba oferece incentivos econômicos e apoio técnico a produtores rurais que se comprometem com boas práticas de manejo e preservação ambiental.
Os proprietários que aderem ao programa podem receber recursos financeiros pela conservação de matas, nascentes e corpos d’água, bem como melhorias em infraestrutura, como cercamento de áreas de preservação, plantio de vegetação nativa e implantação de sistemas de saneamento básico e conservação do solo, viabilizados por convênios e repasses estaduais, federais e outras fontes de financiamento.
Segundo Evelise, Piracicaba é um dos maiores municípios em extensão territorial do Estado, mas apresenta baixa cobertura vegetal natural — cerca de 10%, conforme dados do MapBiomas.
Essa realidade, somada à grande quantidade de recursos hídricos no território, torna urgente a proteção das áreas de recarga e dos mananciais. “A falta de boas práticas agrícolas e o solo exposto favorecem processos erosivos e o assoreamento de córregos e nascentes. Além disso, a ausência de saneamento adequado em propriedades rurais provoca contaminação do lençol freático e degrada o ambiente produtivo”, destacou a engenheira.
Para o secretário de Agricultura, Abastecimento e Meio Ambiente, Mauricio Perissinotto, o envolvimento direto dos produtores é essencial. “Os serviços ambientais fornecidos pelas propriedades rurais, com adoção de boas práticas, têm papel fundamental na manutenção dos nossos recursos naturais, como água, solo e clima. Sem a atuação direta dos proprietários, a conservação ambiental fica muito prejudicada”, afirma.
Atualmente, o PSA Piracicaba contempla propriedades localizadas nas microbacias dos ribeirões dos Marins e Congonhal, e dos córregos Tamandupá e Paredão Vermelho. Neste ano, 20 propriedades estão sendo contempladas, com sete adesões a mais que o ano anterior, abrangendo uma área total de 1.117,60 hectares — sendo 159,94 hectares de Áreas de Preservação Permanente e matas nativas e 731,07 hectares de áreas produtivas com práticas de conservação de solo.
O reconhecimento como finalista no Prêmio Ação pela Água é visto pela equipe da Secretaria como um marco importante. “É uma grande satisfação estarmos na final. Esse prêmio representa a consolidação de um trabalho técnico e consistente, desenvolvido ao longo de 10 anos, e dá visibilidade regional ao nosso programa”, ressaltou Perissinotto.
Ele acrescenta que o objetivo agora é expandir ainda mais a iniciativa. “Estamos realizando um trabalho de prospecção para ampliar o acesso dos produtores, prevendo o acréscimo de mais 50 propriedades até o início de 2027”, disse.
NA PRÁTICA – O produtor rural Klever José Coral, responsável por uma das áreas recuperadas por meio do PSA, no bairro Campestre, tem vivenciado de perto os resultados em sua propriedade, localizada na bacia do Ribeirão dos Marins. A área, antes com trechos degradados, hoje é um exemplo dos impactos positivos que o programa tem gerado tanto para o meio ambiente quanto para a produção rural.
Segundo ele, o trabalho foi essencial para proteger nascentes e córregos que cortam o terreno. “É uma área de pasto, com presença de algumas nascentes e córregos, e havia vazios de vegetação. O intuito nosso era fazer um corredor e unir essas matas, tornando um corredor único. E aí foi realizado o projeto, foi feito o plantio, além do manejo por três anos e o cercamento. O gado hoje não tem acesso às árvores que foram plantadas nem ao remanescente que já tínhamos lá. O desenvolvimento foi um sucesso, nós estamos tendo árvores com mais de dois, três metros, já bem estabelecidas.”
Os resultados, ele afirma, são visíveis — e vão muito além da paisagem. “A gente percebe que o volume de água aumentou nas nascentes. É como se estivéssemos fabricando água, recuperando um recurso que estava se perdendo. Isso melhora a produção, valoriza a propriedade e beneficia toda a região”, garantiu Coral, destacando, ainda, a importância do trabalho técnico e da parceria com o poder público, que, segundo ele, tem aproximado mais os agricultores da pauta ambiental.
“Muitos produtores ainda têm receio de participar, mas o PSA é um incentivo para proteger e melhorar as áreas rurais. Os benefícios são maiores do que apenas aquele pagamento anual. Nós somos deficitários em água aqui na região, temos visto que muitos cursos d’água já tem parado de correr ou diminuiu seu volume. Então, o projeto vem com o intuito de, entre aspas, fabricar água nas propriedades. É um programa social e ambiental, tem todo viés do ESG, que tanto se fala atualmente, então acredito que é importante participar, porque não apenas os produtores ganham, mas todo o município”, completou.
Para participar, o produtor rural deve protocolar o projeto ambiental e a documentação necessária do primeiro dia de março até o último dia útil de abril de cada ano, por meio da Plataforma Sem Papel. O edital e os formulários estão disponíveis na plataforma, bastando buscar pela palavra “PSA”. Informações também podem ser obtidas na sede da Secretaria, na Avenida dr. Paulo de Moraes, 2113, ou pelo telefone (19) 3437-4000.



