Projeto do Semae que utiliza organismo para garantir qualidade da água é finalista em prêmio do Consórcio PCJ
Projeto Bioensaio com Hydra attenuata destaca-se como uma inovação vital no monitoramento da qualidade da água, assegurando a saúde pública e a preservação dos ecossistemas aquáticos
Biólogo do Semae faz análises dos ensaios com a Hydra em laboratório localizado na ETA Capim Fino
Simplificar e agilizar análises laboratoriais para monitoramento da qualidade da água e ecossistemas, diminuir custos e poder compartilhar tecnologia. Estes são alguns dos pontos positivos do projeto Bioensaio em Hydra attenuata, do Serviço Municipal de Água e Esgoto de Piracicaba (Semae), que é finalista do 9º prêmio Ação Pela Água, promovido pelo Consórcio das Bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ). A cerimônia de premiação acontecerá dia 28/11, no Jardim Botânico Plantarum, em Nova Odessa/SP.
A Hydra attenuata é um pequeno animal (celenterado) de água doce que pode ser utilizado para estudos sobre o impacto de numerosos poluentes ambientais – incluindo metais, poluentes orgânicos e efluentes industriais e domésticos – nos recursos hídricos. “Tais informações são fundamentais para as Estações de Tratamento de Água (ETAs), porque orienta as condições operacionais a fim de manter a produção de água potável e segura para o consumo humano. Até onde tenho conhecimento, o Semae é a única companhia de saneamento no Brasil que utiliza esse organismo em ensaios de toxicidade para monitoramento da água para abastecimento público”, explica Ivan Canale, biólogo da Unidade de Controle de Qualidade do Semae e responsável pelo projeto.
O processo funciona da seguinte forma: a amostra de água bruta (antes do tratamento) é coletada diretamente no manancial ou na entrada da água na estação de tratamento. No laboratório do Semae, porções da água são distribuídas em uma placa de plástico com pequenos poços; então, os organismos Hydra attenuata são retirados dos seus frascos de cultivo e mergulhados nos poços contendo as amostras ou diluições da água dos rios. “Os organismos ficam imersos nas amostras e são observados em microscópio durante cinco dias. Se a água estiver livre de contaminantes tóxicos, os organismos permanecem em sua forma normal; se a água do rio contiver substâncias tóxicas, os organismos sofrem deformações na sua estrutura, ou seja, quanto maior o grau de toxicidade, mais severos são os efeitos, podendo chegar à desintegração e morte da Hydra”, relata Canale.
O teste não possibilita determinar qual é a substância tóxica – se é um metal pesado, pesticida, entre outros –, mas indica que existe alguma substância (ou até mesmo o efeito combinado de diversos poluentes) nociva ao organismo e que pode gerar risco à saúde e ao meio ambiente. “Ao serem detectados efeitos tóxicos, é feito um comunicado aos responsáveis pelo tratamento de água para que sejam feitos ajustes operacionais no tratamento, como mudança na proporção e diluição da água dos rios (Piracicaba e Corumbataí, rios que abastecem o município) e ajustes nas dosagens de produtos químicos do tratamento, a fim de garantir a produção de água segura para consumo, conforme os padrões de potabilidade”, explicou.
O biólogo lembra que a avaliação da qualidade da água por meio de análises químicas geralmente exige procedimentos complexos, com equipamentos sofisticados, materiais, reagentes e mão de obra qualificada, além de demandar muito tempo e ter custos elevados. “Os bioensaios de toxicidade com este organismo podem detectar os efeitos combinados de múltiplos poluentes em amostras complexas. Permite também avaliar a resposta de organismos vivos sensíveis a diferentes substâncias tóxicas e até mesmo substâncias químicas desconhecidas, que não seriam monitoradas pelas análises químicas”, destacou.
O INÍCIO – Uma curiosidade destacada pelo biólogo é a forma como o projeto começou. “Começamos os bioensaios com Hydra attenuata lá pelo ano 2000, por meio de parceria com a instituição canadense International Development Research Center, via Projeto Aquatox e do Cena/USP. Desde então esse bioensaio passou a ser realizado no nosso monitoramento de qualidade da água dos mananciais. Atualmente, o projeto está sob comando exclusivo do Semae Piracicaba”.
Canale ainda revela que as Hydras attenuatas do Semae são criadas pela própria autarquia e são alimentadas duas vezes por semana com um microcrustáceo utilizado por aquaristas, que também é cultivado e eclodido no laboratório do Semae. A tecnologia pode ser compartilhada com outros municípios, caso haja interesse.
“Esse reconhecimento do trabalho da autarquia no controle da qualidade da água que fornecemos à população, por meio da indicação ao 9º prêmio Ação Pela Água, promovido pelo Consórcio PCJ, é muito importante e motiva toda a equipe que está comprometida diariamente nessa missão”, comemora Ronald Pereira, presidente do Semae.
O PRÊMIO – Promovido pelo Consórcio PCJ desde o ano 2000, O Ação pela Água é considerado o Oscar da Água nas Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), e tem como objetivo reconhecer, estimular e dar visibilidade às ações desenvolvidas nas Bacias PCJ por instituições públicas e privadas, no sentido de recuperar, conservar ou melhorar a disponibilidade e a qualidade dos recursos hídricos.
Além do Semae, a Prefeitura de Piracicaba tem outros dois projetos finalista na premiação deste ano: o Projeto Preservando o Futuro, da Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Meio Ambiente; e o Projeto Tata e crianças pequenas em: o mistério por trás do brilho do lago, da Secretaria de Educação, por meio da Escola Municipal Maria Benedicta Pereira Penezzi.