Pronto-atendimento é a porta de entrada do SUS em Piracicaba
Os números da pasta de Saúde permitem esse raciocínio que demonstra inversão do sistema público
O prefeito Luciano Almeida (PP) apresentou, durante balanço do seu governo, no último dia 4, o aumento expressivo do número de atendimentos médicos nas quatro UPAs da cidade de Piracicaba, mais o COT, como sendo um avanço.
Segundo o chefe do Executivo, aumentou de 311.739 atendimentos em 2020 para 608.321, em 2024, sendo que o número deste ano, apresentado por ele, é de outubro. Uma projeção daria algo em torno de 730 mil atendimentos neste ano. Ou seja, mais do que duplicou o volume de pacientes na rede de pronto-atendimento nos últimos quatro anos.
Na realidade, isso demonstra que a população está usando as UPAs como porta de entrada do SUS, como já foi tratado em matéria anterior deste site, contrariando o projeto do próprio SUS, cuja porta de entrada ao atendimento público deveria se dar pelos postinhos de saúde, cuja gestão é de responsabilidade do Departamento de Atenção Básica (DAB) e tem, em seu fundamento, caráter preventivo, focado na qualidade de vida da população.
Por outro lado, na Atenção Básica, o número de atendimentos médicos passou de 239.090, em 2020, para 260.703 até outubro de 2024. Uma projeção daria algo em torno de 313 mil atendimentos neste ano. Ou seja, menos da metade dos atendimentos realizados pelo pronto-atendimento da cidade. Sem contar que a Atenção Básica envolve nesse total todos os serviços de enfermagem, o que deve jogar o número de atendimentos médicos propriamente ditos – nos 74 postos de saúde dos bairros (USFs e UBSs) – para baixo.
Ou seja, o número de atendimentos médicos na rede básica de saúde deve corresponder a menos de um terço dos atendimentos médicos realizados nas UPAs. A relação entre esses dois setores fica ainda mais desigual se considerarmos que são 74 unidades de saúde na Atenção Básica, contra apenas 4 UPAs, mais o COT.
Em um cálculo rápido, considerando os 313 mil atendimentos em 74 postos de saúde, em 20 dias da semana e 8 horas trabalhadas por dia, temos algo aproximado a 2,2 atendimentos por hora, em uma estrutura que conta com pelo menos 90 médicos, além do corpo de enfermagem e técnicos. Salvas explicações mais detalhadas, a rede de atenção básica parece operar em um nível de ociosidade muito alta, demonstrando assim ser uma estrutura gigante e dispendiosa, que não cumpre à altura sua função estabelecida pelo SUS.
O secretário de Saúde, Marcelo Pinto de Carvalho, foi consultado sobre essa realidade, tendo como referência os números que deram base ao raciocínio que fundamenta esta matéria. Sua resposta foi a seguinte:
“A Secretaria de Saúde esclarece que o município de Piracicaba possui 74 unidades de saúde (19 UBSs e 55 USFs) executando os serviços na Atenção Básica. As USFs e UBSs ofertam serviços à população, cada um com sua singularidade, sendo norteados pela Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), 2017, do Ministério da Saúde. É importante destacara que a rede não “é gigante e dispendiosa”, uma vez que a Rede de Atenção Básica de Piracicaba, segundo dados retirado do sistema E-Gestor conta com a cobertura estimada em 66,2%, cuja proposta de ampliação encontra-se em planejamento estratégico.”