Queda livre de um presidente que não entende mais de pobre
O filósofo Luiz Felipe Pondé, por exemplo, faz uma leitura muito parecida com a que fiz um tempo atrás para o site Viletim
Com a continuidade da queda livre do presidente Lula nas pesquisas de opinião pública, as análises tentando explicar o fenômeno se ampliam. Torna-se quase óbvio dizer que a economia vai muito mal, por isso seu representante máximo padece. Mas as possibilidades de leituras do cenário são diversificadas, quando se segmenta o fator “evaporação de um ídolo”.
O filósofo Luiz Felipe Pondé, por exemplo, faz uma leitura muito parecida com a que fiz um tempo atrás para o site Viletim (Leia aqui). Ele fala sobre a libertação do “Pobre de Direita” para uma matéria da revista Crusoé (Leia aqui). Pobre de direita é uma expressão que ele criou há quase uma década para definir o perfil do brasileiro que precisa “ir atrás do prejuízo e trabalhar”.
Nas falas de Pondé, esse seria um contraponto à perspectiva esquerdista de aguardar — ou proporcionar — o auxílio estatal, segundo a matéria da Crusoé.
Na matéria assinada por Rodolfo Borges e Deborah Sena, essa perspectiva de autonomia e liberdade proporcionadas pela desburocratização — e o consequente barateamento — das contratações e das possibilidades de trabalho parece ter encontrado em certo ideário evangélico o ambiente perfeito para se disseminar.
Outro pensador, o antropólogo Juliano Spyer em Povo de Deus (Geração), afirma, na mesma matéria da Crusoé, que "O ambiente de muitas das igrejas evangélicas estimula a disciplina pessoal e a resiliência dos fiéis, promove a cultura do empreendedorismo, fortalece a atuação de redes de ajuda mútua e incentiva o investimento em instrução profissional".
Spyer segue a lógica do meu artigo e afirma, em seu próximo livro, intitulado “Crentes: pequeno manual sobre um grande fenômeno (Record)”, que a igreja ajuda a promover o "fim do alcoolismo e consequentemente da violência doméstica, fortalecimento da autoestima, da disciplina para o trabalho e aumento do investimento familiar em educação e nos cuidados com a saúde", o que "geralmente conduz à ascensão socioeconômica".
Eu não havia lido estas observações de Pondé, nem mesmo as teses de Spyer. Mas, intuitivamente, pelas minhas diversas leituras sobre o tema, deduzi o que poderia estar acontecendo. E, pelo que percebo, eu estava no caminho certo. É sempre gratificante descobrir pensadores que estão na mesma linha de percepção que a nossa. Principalmente quando são intelectuais respeitados no mundo das ideias.