Quem souber, ganhará o jogo
Pedir equilíbrio emocional de Lula nesse momento antes de tomar qualquer decisão revanchista contra a taxação americana já é suficiente para alguém afirmar que você está defendendo um extremo
O ambiente político nacional está tóxico. A taxação adicional de Donald Trump às exportações brasileiras, por questões que fogem à lógica econômica, ampliou a sensação de que algo de muito estranho acontece na relação entre o governo brasileiro e o americano. Trump quer punir uma coisa e ameaça com outra. Sem sentido. Coisa de louco.
Pedir um pouco de equilíbrio emocional de Lula nesse momento antes de tomar qualquer decisão revanchista contra a taxação americana já é suficiente para alguém afirmar que você está defendendo um extremo nessa teia de intrigas.
É evidente que os ânimos estão acirrados por interpretações opostas sobre o funcionamento da ordem social, da economia, da justiça, bem como dos interesses particulares dos interlocutores envolvidos diretamente no conflito.
Alexandre de Moraes é hoje um dos principais responsáveis pelo aprofundamento da censura no país, especialmente nas redes sociais. Ali, onde era para ser um ambiente livre a se desenvolver com base no marco legal da internet, tornou-se um espaço para além de conflituoso, onde as leis ainda sofrem por falta de regulações adequadas. As decisões recentes do STF para controlar a rede pioraram o ambiente ao invés de saneá-lo. Trump vê nisso impedimento à liberdade de expressão e está certo.
Moraes também age de forma descontrolada para mostrar sua força como o grande xerife nacional, tentando se impor contra Bolsonaro, com punições excessivas, somente para provocar ainda mais o outro louco, chamado Donald Trump. Para que essa fissura por se impor? Só acirra ainda mais os ânimos.
Bolsonaro tem um histórico de coisas erradas que fez durante seu governo, o que não dá a ele álibi algum para se apresentar como vítima de um sistema. Pelo contrário. Ajudou muito no acirramento das relações políticas ao desregulamentar as estruturas de controle da corrupção no país a fim de salvar seus familiares das garras da justiça. Com isso, perdeu a moral e está agora na rua da amargura, porque a lei do ‘quem manda aqui’ está sendo manipulada contra ele.
Lula quer se reeleger em 2026 e viu nessa guerra de ameaças entre delinquentes uma oportunidade para sair do limbo em que se encontrava e resolveu exacerbar seu nacionalismo de festim. Saca a expressão soberania nacional para fazer bonito com seu eleitorado. Mas a expressão não está caindo bem para mais ninguém que tenha alguma responsabilidade e que sabe o quanto vai custar a perda de empregos em setores estratégicos da economia devido a tal sobretaxação, se ela vier.
Trump, por sua vez, é um trator descontrolado. Faz coisas sem pensar e gosta de se envolver em briga de rua, como esta que está acontecendo com o Brasil. Digo briga de rua pelo estilo vulgar dos oponentes, que se deixam levar pelo fígado e não medem consequências, a não ser o quanto podem ganhar se o jogo os favorecer. Uma guerra de torcidas. Isso nunca deu em coisa boa.
Diplomacia deveria ser a palavra de ordem. Mas como pedir diplomacia se o próprio Itamaraty está nas mãos de gente ogra? O velho e bom Itamaraty, composta por intelectuais com amplitude de visão e responsáveis não existe mais, o que existe é um departamento comandado por ideólogos brucutus, que perderam a noção de mundo civilizado. Estão mais para defensores de facínoras do que para planejadores de um amanhã decente, em defesa da democracia e de um ocidente forte e integrado.
No que vai dar isso tudo? É difícil imaginar, se o conflito continuar sendo negociado por esses incapazes. A população brasileira já percebeu que vai perder ainda mais alimentando extremismos. O caminho do meio é sempre o mais prudente em situações adversas e perturbadas. O Brasil precisa mudar de rota e se afastar o quanto antes desse ambiente toxico. Mas como? Quem souber, ganhará o jogo.
Ótima análise, Romualdo.
O paradoxal disso tudo é que o Alexandre de Moraes, um conservador, é um "problema" criado exclusivamente pela direita. Ele só está no Supremo porque houve impeachment da Dilma. A esquerda não tem nada a ver com isso.
Dentre o "histórico de coisas erradas" do Bolsonaro está incluída a responsbilidade direta em centenas de milhares de mortes na pandemia?
Era por esse crime que eu realmente gostaria que ele fosse preso.