RCGI lança registradora de créditos de carbono com rigor científico
Iniciativa combina validação com um fundo obrigatório que transforma os créditos em investimentos para a ciência e a sociedade
Uma registradora valida, emite e acompanha cada crédito de carbono, garantindo que seja único, verificável e rastreável. Sem registro, o crédito não existe, nem para quem precisa cumprir metas de descarbonização, nem para quem deseja vender seus resultados ambientais (foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
O Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) lançou a RCGI-USP Carbon Registry, a primeira registradora nacional de créditos de carbono do Brasil. Um dos diferenciais da iniciativa está no desenvolvimento de metodologias próprias, continuamente auditadas e alinhadas a padrões internacionais, e no modelo Clima, Comunidade, Biodiversidade, Ciência & Social (CCB-SS), que exige que parte dos créditos seja direcionada a um fundo exclusivo para financiar pesquisas científicas e projetos socioambientais.
O RCGI é um Centro de Pesquisa Aplicada (CPA) constituído com apoio da FAPESP, da Shell e participação de outras empresas, com sede na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).
Na prática, uma registradora funciona da seguinte forma: é ela quem valida, emite e acompanha cada crédito de carbono, garantindo que seja único, verificável e rastreável. Sem registro, o crédito não existe, nem para quem precisa cumprir metas de descarbonização, nem para quem deseja vender seus resultados ambientais. O ciclo envolve cinco atores principais: proponente e desenvolvedor do projeto, verificador independente (auditoria), registradora (validação, registro e rastreabilidade) e os compradores e vendedores. Esse funcionamento explica o papel central das registradoras no mercado de carbono.
“Uma registradora de carbono se torna mais robusta quando combina dois elementos essenciais: ciência e interesse público. A RCGI-USP Carbon Registry já nasce com metodologias próprias, continuamente auditadas, que devem fortalecer a integridade dos créditos brasileiros e alinhá-los às melhores práticas internacionais”, afirma Julio Meneghini, diretor científico do RCGI e um dos líderes da iniciativa (leia mais em: agencia.fapesp.br/56695).
Lastro acadêmico
As metodologias adotadas pela RCGI-USP Carbon Registry foram desenvolvidas para a realidade brasileira, garantindo aderência tanto às particularidades da indústria e dos biomas nacionais quanto aos padrões internacionais da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.
Já o modelo CCB-SS estabelece que parte dos créditos seja destinada, de forma obrigatória, a um fundo para financiar iniciativas de pesquisa científica, conservação ambiental e impacto social, tornando esses aportes estruturais e não opcionais.
No campo operacional, a registradora busca reduzir barreiras práticas para o setor produtivo: cobra em reais, adota prazos de análise de até 90 dias — contra até 12 meses de plataformas internacionais — e oferece uma ferramenta para elaboração de inventários de emissões de gases de efeito estufa com base no padrão internacional GHG Protocol. O sistema é simplificado e guiado para micro e pequenas empresas e, no caso de grandes companhias, inclui suporte técnico para incorporar também emissões indiretas.
Governança independente
A operação da RCGI-USP Carbon Registry ficará a cargo de uma startup com DNA USP. À universidade caberá o desenvolvimento de metodologias científicas próprias e a certificação da adequação de metodologias externas, sempre com revisão e auditoria de um comitê técnico independente coordenado pelo RCGI-USP – garantindo que o rigor científico esteja presente em todas as etapas.
Com as metodologias próprias para a realidade brasileira, auditadas continuamente e alinhadas aos padrões internacionais, a registradora busca elevar o padrão de integridade, fortalecer a confiança no mercado voluntário e preparar o país para o futuro mercado regulado. Pelo desenho do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), empresas que emitem acima de 10 mil tCO2e/ano deverão monitorar e reportar suas emissões; aquelas acima de 25 mil tCO2e/ano também terão de entregar cotas equivalentes às suas emissões.
Agência FAPESP *
* Com informações da Assessoria de Imprensa do RCGI.



