Renan Paes e a arte da petulância
O edil chega com tudo, atropelando até o que desconhece, para defender um clichê
Nem sempre a petulância é uma qualidade dos desprovidos de Simancol. Pode se desenvolver também em espíritos abusados, com propósitos definidos. No entanto, costuma movimentar ações ignoradas pelo bom senso. Um petulante pode ter certeza inclusive do que desconhece profundamente. Ele é capaz de tecer observações sobre o assunto com a mesma convicção de quem diz ‘bom dia’.
Foi esta a sensação transmitida pelo pronunciamento do ilustre vereador que acaba de assumir uma cadeira na Câmara Municipal de Piracicaba, Renan Paes (PL), ao tratar do lodo que era descartado no Rio Piracicaba pela Estação de Tratamento de Esgoto Luiz de Queiroz e a falta de água na cidade. Está no instagram sua obra prima. Para defender a privatização em Piracicaba do Serviço Municipal de Água e Esgoto (Semae), ele atropela os fatos, Cetesb, Ministério Público, Polícia Ambiental, Ares-PCJ e a própria Justiça e pareceu um verdadeiro especialista em petulância.
No mínimo, o recém-chegado ao parlamento piracicabano sequer leu a ação civil pública que embasa a exigência para que o governo municipal elabore em caráter emergencial um projeto para tratamento do lodo nas unidades em questão. Ele sequer notou que há um longo contexto histórico a se considerar e muitos estudos e discussões técnicas envolvidas. Ele não sabe, por exemplo, que o lodo não é apenas barro, mas também agentes tóxicos, relacionados com a morte de peixes, mostrando claramente nexo causal entre lançamento irregular de lodo e a morte de peixes no Rio Piraicaba, como afirma a ACP.
E eis que chega o simplificador geral do parlamento piracicabano, Renan Paes, para dar a linha de conduta, a partir de agora. “É muito simples resolver o problema e falta de água em Piracicaba. Privatiza-se o Semae que tudo se resolve”. Em primeiro lugar, a discussão não é sobre privatização ou não da autarquia. Além de que metade dela, a parte do esgoto, já está privatizada há mais de uma década, e pela lógica do edil, tudo deveria estar resolvido nesse setor, o que não é verdade. Ele usa a mesma lógica do marido traído, que, para resolver o problema do adultério, elimina o sofá usado pelos amantes.
Paes faz questão de misturar alhos com bugalhos. Segundo ele, não há estudos que comprovem o impacto ambiental do lodo descartado no rio e todo esse imbroglio na ETA é problema causado pelos ecochatos, que fizeram a denúncia sobre a ilegalidade. Ele acha isso e boa, como se a realidade fosse uma espécie de desenho infantil. Não se dá ao capricho sequer de conversar com quem entende do assunto.
Uma sugestão ao novo integrante do parlamento: estude mais e evite se expor sem filtros. Vai que alguém o confunda com um petulante, não fica bem para quem está no início de um grande trabalho em prol de Piracicaba. A não ser que você seja mesmo um petulante com propósitos. Está no seu direito de defender a privatização total da autarquia. Mas entre isso e a análise superficial que faz sobre os problemas do Semae, há um mundo de questões no meio do caminho que precisa ser devidamente analisado.