Retrato de um personagem
Não é fácil traçar seu perfil, mas é fácil identificá-lo quando traçado, mesmo que de forma superficial
Ora, se o presidente é teatral. Está mais do que desenhado. É até difícil saber quando Lula atua como artista ou como autoridade. Penso que vivemos em um país governado por um personagem de Pirandello, que passa seu tempo na figuração, nem sempre consciente disso, mas por falta de educação adequada, de caráter e de senso de ridículo. Características que ele mesmo deve reconhecer.
Seu público, pelo mesmo motivo, fica à mercê desse encantamento, sem saber exatamente o que está por vir, catalisado por algo de mágico no ar. Vive-se uma realidade plástica, modelável, entre o show e a vida como ela é. Quem paga por isso não relaciona o próprio drama com o espetáculo que assiste.
O caráter de Lula foi forjado sem a argamassa da moral, por isso, sua atração para o que está à margem do civilizatório é gritante. Mesmo quando atua na política, não deixa seu elo com uma espécie de ficção ideológica. Assim figurou no sindicato, figurou na cadeia e, mais evidentemente, figura como presidente do Brasil.
Não é homem para ser levado a sério. Este é o maior problema. Quando faz o papel de autoridade, confunde seus admiradores e até mesmo seus adversários. Ninguém sabe o momento em que seu texto foi escrito para a vida pública ou para a paródia.
Por isso, o Brasil, em suas mãos, tornou a vida pública em uma paródia, em uma chanchada real. Este é seu truque, porque é na paródia que está sua força. Temos no comando um homem de personalidade dupla, com papel real, mas com uma formação específica apenas para o mundo do espetáculo.
O problema mais grave é que sua conduta se enverga para o abominável. É patologicamente tragicômico. Isso tem custado muito caro ao Brasil e prejudicado sobremaneira a chanchada nacional.
Por se cansar de suas peripécias e da obviedade dos seus truques performáticos, até mesmo seu público começou, aos poucos, a deixar a arena da exibição, e tem desenvolvido certa desconfiança do personagem. Este é o único sinal que vale a pena ressaltar em um fim de show.