Salão de Belas Artes de Piracicaba chega à 70ª edição reafirmando sua importância nacional
Abertura será amanhã, sexta-feira, 1º de agosto, às 19 horas, na Pinacoteca Municipal Miguel Dutra, com visitação gratuita até 5/10
Piracicaba se prepara para celebrar uma das mais longevas e respeitadas mostras de arte figurativa do país. A abertura oficial do 70º Salão de Belas Artes será amanhã, sexta-feira, 1º de agosto, às 19 horas, na Pinacoteca Municipal Miguel Dutra, no Parque do Engenho Central. A entrada é gratuita. A exposição poderá ser visitada até 5/10, de terça a domingo, das 9h às 17 horas.
Nesta edição, 67 artistas foram selecionados com 110 obras escolhidas entre 639 inscrições recebidas de várias cidades e Estados do Brasil. A comissão julgadora foi formada pelos artistas Renato Bergamaschi de Cara, Flavia Pinto Coelho, Katia Salvany, Carmen Elisabeth Pousada e Luis Fernando Silva Sandes.
Renato de Cara, curador do Paço das Artes de São Paulo, afirma que a seleção final valoriza tanto a técnica quanto a força conceitual. “Pensar as Belas Artes hoje exige sensibilidade para os discursos nas formas, nas cores, nas escolhas simbólicas. Fico feliz por contemplar pluralidade de vozes, estéticas e visões de mundo. Essa diversidade dá sentido à arte em nosso tempo.”
Na cerimônia de abertura serão anunciadas as obras premiadas com os prêmios aquisitivos da Prefeitura de Piracicaba e da Câmara Municipal, além da entrega das medalhas de ouro, prata e bronze, e das menções honrosas.
O secretário de Cultura, Carlos Beltrame, destacou: “Chegar à 70ª edição reafirma um compromisso que atravessa gerações: valorizar a arte, os artistas e nossa identidade cultural. O Salão segue como referência e símbolo da cultura de nossa cidade.”
ARTICULAÇÃO – A criação do Salão de Belas Artes de Piracicaba começou na década de 1950, com o artista Archimedes Dutra, que defendia um espaço permanente para as artes visuais na cidade. A proposta amadureceu na redação do Jornal de Piracicaba, sob comando dos irmãos Fortunato Losso Netto e Eugênio Luiz Losso, em diálogo com os escritores David Antunes e Leandro Guerrini.
Archimedes pensava em uma grande exposição, mas foi Fortunato quem sugeriu o formato de um salão permanente. A ideia foi apresentada à Câmara pelos vereadores Antônio Stolf e João Chiarini, com o objetivo de reconhecer oficialmente a produção artística local. Sancionada pela Lei nº 354, de 25 de abril de 1953, e publicada no Jornal de Piracicaba no dia seguinte, a legislação estabeleceu a realização anual do Salão durante o aniversário da cidade.
INÍCIO – A mostra inaugural do Salão de Belas Artes de Piracicaba foi realizada no prédio da Câmara Municipal, então instalado na antiga residência do Barão de Rezende, no centro da cidade. A organização ficou a cargo da primeira comissão, formada por Archimedes Dutra, David Antunes e Fortunato Losso Netto. A exposição reuniu 106 obras de 32 artistas, das quais 58 foram oficialmente selecionadas.
Segundo o livro Piracicaba, a Florença Brasileira, do jornalista Cecilio Elias Netto, a cerimônia de abertura ocorreu às 14h de 1º de agosto de 1953, data do 186º aniversário da cidade, com celebrações e homenagens. O evento contou com autoridades e representantes da sociedade civil, incluindo o Chefe da Casa Civil do Governo de São Paulo, o escritor Leão Machado.
Cinco artistas foram premiados: Olavo Ferreira da Silva, com Rosas (Prêmio Prefeitura Municipal – Aquisição); João Dutra, com Porto do Moratinho (Prêmio Comendador Pedro Morganti); Alípio Dutra, com Conspirador (Prêmio Almeida Júnior); Antônio Pacheco Ferraz, com Barcos Abandonados (Prêmio Piracicaba); e Alberto Thomazi, com Voadora (Prêmio Antônio Corrêa Barbosa). A mostra foi encerrada em 15 de agosto de 1953, em clima solene, com os premiados sendo homenageados com coroas de louros.
“O primeiro Salão de Belas Artes foi mais do que um evento cultural. Foi o renascimento simbólico de Piracicaba como cidade das artes. Convivi muito de perto com esse universo: estive próximo de figuras como Archimedes Dutra, João Chiarini e os irmãos Losso, que foram essenciais para a construção desse movimento. Na época, havia um conflito artístico evidente entre a tradição clássica e as novas linguagens que despontavam. Mesmo com visões diferentes, havia um respeito comum e o desejo de fazer da arte um valor essencial à cidade. O Salão revelou talentos e trouxe um pioneirismo e referência cultural”, relembra o jornalista e escritor Cecílio Elias Netto.
A organização da segunda edição do Salão de Belas Artes começou em 30 de junho de 1954, com uma reunião realizada na redação do Diário de Piracicaba. A nova comissão era formada por Joaquim do Marco, Antônio Pacheco Ferraz e Angelino Stella. A mostra foi aberta em 1º de agosto e contou com obras premiadas de Archimedes Dutra (Piracicaba), Alberto Thomazi (Casqueiros de Ouro Preto) e Álvaro Sêga (Tranquilidade).
Um dos destaques foi Frei Paulo Maria de Sorocaba, que recebeu medalha de ouro pela obra Estudo de Crâneo, pintada entre 1912 e 1913. Naquele ano, o Salão contou com apoio da iniciativa privada, com prêmios de aquisição patrocinados por empresários locais, como Mário Dedini, José Orsini, Lino Morganti, Antônio Romano e Romeu Ítalo Rípoli. Essa participação marcou o início de uma aproximação entre o setor industrial e as artes visuais em Piracicaba.
PRESENÇA FEMININA - Em 1953, na primeira edição do Salão de Belas Artes de Piracicaba, apenas duas mulheres participaram: Adair Aparecida Marrach e Maria Piffer. No ano seguinte, esse número cresceu significativamente, contando com 11 artistas mulheres: Albertina Coelho, Dalva Rodrigues, Dora Serafini, Ida Schalch, Ignes Enfeldt, Maria Adelina de Silos Doria, Maria Albertina Vilaça Meyer, Maria Ferreira Bueno, Vilma Cascuri, Waly Regolini e Zilda Pereira. Ao longo das décadas, essa trajetória continuou evoluindo. Em 1958, Cecília Ferraz Guimarães foi a primeira mulher a conquistar um prêmio na história do Salão. Já em 1998, Maria Cecília Neves se tornou a primeira artista a receber a medalha de ouro. Nesta septuagésima edição, 28 mulheres participam do Salão.
GRANDES NOMES - O Salão impulsionou carreiras e consolidou nomes que hoje são referência no circuito artístico brasileiro. Entre os destaques históricos estão o próprio Archimedes Dutra. Artistas como Maria Bonomi, Mira Schendel, Leda Catunda, Eugênio Luiz Losso, João Dutra e Hugo Benedetti também figuram entre os grandes nomes que passaram pela mostra. Ao lado deles, nomes como João Edygio Adamoli, Maurício Suzuki, Eliana Jesus de Lima Santos e Carmelo Gentil Filho deixaram suas marcas em diferentes edições. Em 2024, Maurício Suzuki conquistou a Medalha de Ouro com a obra Maria, enquanto Adriano Paulo Padilha recebeu a Medalha de Prata por “Imagem e Semelhança”.
“Participei de muitas fases e transições do Salão, com temas que se renovaram ao longo do tempo. Mas é impressionante como a essência das primeiras edições permaneceu viva. Essa longevidade mostra que a arte precisa ser sentida, não apenas admirada. E para que ela perdure, temos que olhar para o futuro, pensar em como envolver as novas gerações. Piracicaba foi pioneira nesse campo, e nosso desafio agora é manter esse legado acessível, atrativo e inspirador para os jovens”, comenta Cecilio.
PINACOTECA MUNICIPAL - A Pinacoteca Municipal Miguel Dutra é um dos principais espaços de preservação e valorização das artes visuais em Piracicaba. Seu acervo reúne 1.032 obras, das quais mais de 700 são tombadas como patrimônio público. O acervo retrata o cotidiano piracicabano por meio de registros do rio, da Rua do Porto, da população e de momentos marcantes da cidade. É um patrimônio vivo, que reflete a produção artística em múltiplas técnicas, temas e estilos, preservando a memória coletiva e reforçando a identidade cultural local.
SERVIÇO – 70º Salão de Belas Artes de Piracicaba. Na Pinacoteca Municipal Miguel Dutra (Av. Maurice Allain, s/n – Parque do Engenho Central). Abertura amanhã, sexta-feira, 1º/08, às 19h. Visitação até 05/10, de terça a domingo, das 9h às 17h. Informações: (19) 3434-8600.