Terceira via cresce e vai pesar na decisão dos caciques partidários
A influência de Bolsonaro está inflacionada no cenário eleitoral; a tendência é isso ficar mais evidente ao longo do segundo semestre
Há uma leitura predominante no campo conservador de que o nome do candidato de oposição a Lula deve ser aquele ungido por Jair Bolsonaro. O ex-presidente trabalha nessa linha, caso ele não consiga ter seu nome liberado pela Justiça, como tudo indica, supondo que sua decisão seja ainda fundamental para a condução do pleito presidencial em 2026.
Tanto é que ele não para de lançar balões de ensaio para embaralhar o jogo, lançando agora nomes de seus familiares como possibilidades nessa escolha pessoal e intransferível, tentando evidenciar sua presença como demiurgo e fazer sombra aos demais, como Caiado, Ratinho Jr., Zema e Tarcísio de Freitas, como se eles estivessem à sua mercê. Até um ponto esse raciocínio é válido. Mas há muito de fantasia nesse cálculo.
Michele e Eduardo, portanto, também são opções no bolso do paletó de Bolsonaro. Mas não creio que esse jogo de força terá longa duração. Bolsonaro pode ter muito menos apoio do que imagina junto ao eleitorado que quer um substituto para Lula e tem crescido a percepção de que um nome novo deve surgir desse xadrez, que tenha um estilo diferente do ex-presidente (o que não incluiria seus familiares), que já estressou sobremaneira o ambiente e as conversas sobre o assunto.
Os próprios partidos que o apoiam concordam que o nó deve ser desatado o mais breve possível. Só não avançaram na conversa por pura estratégia, pois esperam uma decisão mais segura do STF sobre o futuro do ex-presidente, que perde força a cada dia e, por isso, deve ser engolido pelas circunstâncias.
Entendo que o jogo de Bolsonaro, para mostrar seu potencial de interferência, tende ao esmaecimento ao longo do segundo semestre, conforme ele vá ficando à deriva e mais próximo da prisão. Os partidos de oposição terão, assim, que definir, dentre as possibilidades concretas, aquela que traz menos risco e com maior potencial de ganho. Mais de um nome pode ir a campo, como Caiado e Tarcísio de Freitas, por exemplo, por diferentes agremiações, para posterior composição.
Haverá ainda um tempo de desgaste para os conservadores, mas o desmoronamento da imagem de Lula, se perdurar nas próximas pesquisas, deve levar as forças políticas a uma decisão inevitável. Essa escolha certamente levará em consideração um aspecto pouco considerado, mas real: Bolsonaro também não tem mais aquele poder que o nutria há seis meses. O eleitorado que quer o fim da era Lula já pensa em um nome que não esteja tão ligado ao ex-presidente. Esse movimento cresce mais do que se imagina. Caso contrário, será o caminho do inferno de sempre.