Uma guerra que precisa ter fim
Mesmo que não seja o fim almejado, mas o que permita a volta à vida do povo ucraniano
Quem não acompanha de perto o que acontece na Ucrânia fica limitado para avaliar o andamento do conflito com a Rússia. Ler o noticiário de sites do país é uma forma óbvia de se aproximar do cenário de guerra. É o que tenho feito diariamente para tentar entender o nó elaborado por Moscou.
As agressividades de Putin estão lá. As consequências de mísseis lançados sobre civis e drones que pipocam por todo o canto são relatadas por autoridades. O fogo arde. A população sofre muito, mas resiste.
A resistência dos soldados ucranianos também é um destaque evidente. No entanto, nunca se sabe ao exato o nível do calor envolvido e o grau de destruição e morte nos confrontos. É fato que morrem muitas pessoas inocentes e de forma brutal todos os dias.
Pelo menos no pravda.com.ua, ao início da noite, costuma haver uma manifestação de Zelensky, o presidente ucraniano, que tenta acalmar a temperatura e dar pinceladas sobre os combates à imprensa, passando com certa segurança o que de fato está ocorrendo nas frentes de batalha.
Somos levados a crer que, apesar de toda a loucura de Putin em querer dizimar o país vizinho, a Ucrânia continua forte. Pelo menos esta é a mensagem central até o momento de todos os comandantes de guerra da nação invadida.
O que mais impressiona nesse emaranhado é a habilidade de Zelensky de correr o mundo em busca de aliados, revertendo muitas vezes pontos de tensão que poderiam prejudicar a resistência do seu país. Habilidoso o homem. Hoje, a Europa tem total certeza de que ela precisa apoiar a Ucrânia. E tem feito isso com cautela devido às circunstâncias e ao conflito de interesses em questão.
É fácil exemplificar esse conflito: como pode uma nação se contrapor a quem lhe fornece o gás para abastecer seu sistema de refrigeração? A Europa dependia quase que integralmente do gás russo, coisa que deve ter mudado recentemente, até para que os europeus não sejam facilmente penalizados ao aplicar retaliações severas a Moscou.
Com isso, o torniquete contra Putin tende a ficar cada dia mais apertado. Até o enviado especial dos EUA, Keith Kellogg, à Polônia, disse que Putin sabe que não tem condições de vencer esta guerra. O inseguro Donald Trump já tem mudado muito sua posição sobre quem defender. Ele afirmou hoje (30), em uma reunião com altos oficiais na base do Corpo de Fuzileiros Navais, na Virgínia, ao tratar da liderança mundial de sua tecnologia bélica e nuclear, que os EUA têm uma “vantagem de 25 anos” sobre a Rússia e a China.
Trump chamou a Rússia de Tigre de papel, por arrastar um conflito durante quatro anos, sendo que havia prometido resolver a questão em uma semana. Na última terça, 23, Trump disse também que a Ucrânia está em posição de lutar e recuperar todo o seu território tomado pela Rússia.
A sensação de quem está longe e torce pela vitória ucraniana é que algo de novo está acontecendo, com um viés de alta na autoestima de Zelensky e dos soldados ucranianos. Mas o processo é complicado e difícil para se traçar um ponto de reversão no percurso do Kremlin.
No mundo livre, esperava-se um posicionamento mais contundente de suas lideranças a favor da Ucrânia. No início, até mesmo defesas que deveriam ser enfáticas, tornaram-se titubeantes. Mas aos poucos o entendimento foi mudando e o ponto de inflexão para uma vitória da Ucrânia parece se aproximar.
Se não houver o fim da guerra propriamente dita, haverá, ao menos, o arrefecimento da potência endiabrada de Putin, estancando os ataques mais perigosos, com sistemas de defesa ampliado, permitindo a volta à vida menos turbulenta dos seus habitantes. Quero crer.