Uma luta entre a besta e o apocalipse
Cala boca, Magda. Já está difícil pensar e você me solta esses pensamentos...
Mal termino um artigo em que acuso o governo Lula de ser um circo e vem o Trump com seu picadeiro global, armado para dois palhaços disputarem o centro das atenções. Era tudo o que Lula sonhava, poder contracenar com Trump e disputar o cinturão de palhaço mais falastrão do mundo.
Enquanto Lula vai defender teses dos anos 1980, o cabelo laranja promete voltar ainda mais no tempo, em defesa da reindustrialização americana. Um show de ideologia retrô. O ingresso, para a disputa sobre a taxa 50% aplicada contra as exportações brasileiras aos EUA, no entanto, vale o olho da cara, para os brasileiros.
Quem ganha e quem perde essa parada? Claro que quem ganha é a conversa fiada. Ambos são exímios nesse quesito. Mas Lula acaba por ser um privilegiado. Ele estava sem discurso e vem o Trump, justo o Trump, e lhe dá a possibilidade de recauchutar todas as lorotas petistas contra o imperialismo americano, contra a economia global e contra... Bolsonaro. Sim, contra o ex de Lula. O ex-presidente, anterior a Lula, entenda.
William Waack acha que os bolsonaristas e a direita em geral vão sair prejudicados eleitoralmente. Especialmente aqueles que se dizem trumpistas. Mas não é simples assim cravar uma opinião diante de um cenário em que todas as empresas exportadoras do Brasil para os EUA saem perdendo. A economia nacional sai perdendo.
A pressão contra Lula tende a aumentar e vai ser cobrado equilíbrio de um chefe de Estado que gosta de palanque e de confrontos. Em tempos menos bestas, a saída seria diplomática, mas com Celso Amorim no comando do Itamaraty, diplomacia é um lugar que não existe. Ou melhor, só existe diplomacia para carrascos e assassinos contumazes.
Enquanto isso, Bolsonaro aposta nesse arranca-rabo, coisa de gente vulgar, para escapar das garras do STF. Mas como pode o STF – ou melhor, as decisões de Alexandre Moraes e seus iguais – estar agora sendo questionado dessa forma econômica? Está claro que a Suprema Corte age com autoritarismo. Mesmo assim, como dizia Vicente Matheus, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Para Trump é assim, no arrastão, alhos com bugalhos. Lula também gosta de um arrastão. Na verdade, Lula gosta de um PCC inteiro. Mas não se deve analisar o imbróglio dessa forma, sem separar o joio do trigo. O trigo, no caso, é a economia brasileira, já fortemente impactada pelas tributações do governo, mas que segura a onda nacional contra um governo avesso à... economia de mercado. Mercado que terá que pagar também pelas perturbações do STF e pelo jeito mastodôntico de Trump agir em defesa de Jair Bolsonaro. Olha aonde chegamos. Que miudeza.
Seria show para se assistir de camarote, se o maior prejudicado não fosse somente os brasileiros. Como diz a frase, seria cômico, se não fosse trágico. Vamos torcer para que algo errado dê certo. Só o nonsense nos salvará dessa enxurrada de certezas, onde a burrice campeia solta.